quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Carta de despedida a meu amigo Sexta-Feira

eu à deriva
fazendo barquinhos de papel nas mãos
solto-os na enxurrada ? ou não

repasso passo a passo minha escapada da ilha em que me encontro
tem de ser lua nova, maré baixa
e que os chacais não me vejam ou sintam meu cheiro
é ...

ando perdidão da silva
moço, como chama essa rua de minha vida ?
nessa esquina lembro que bebi um dia com amigos outros com amantes
dess’outra me vêm à mente noite que larguei amiga despúes de festa
enfim soltar seu corpo finalmente no ar, mas não pular de prédio
corpo solto na horizontal
deixar tuas pernas te levarem pra onde quiser
pra isso, precisa de disposição e paciência
há muitos lugares aonde ir
e
levar os devidos mantimentos
e
nunca deixar o mais belo sorriso no rosto em casa

pois coisa tão preciosa não há
portanto entregá-lo a qualquer

... é desatenção

tesouro escondido
gengivas, salivas e próteses dentárias
vencendo guerras
meu precisar vem de pressentir
vem de supor
de imaginar
decifrar e devorar
não do pressentir objeto
real tátil
supor nas entrelinhas
invadir imaginários
existir inconsciente

no meu barco naufragado meu avião envia sinais de mayday

queria hoje ser outro
ser Jorge, Marcos, Eliseu
ser você
chega de tanto ser eu

cansei das corcovas nas minhas costas
e do gosto salgado do mar dessa minha ilha

abracos amigos

beijinho meu bem

lá me vou para o continente


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Bob Dylan




quem vai dizer?

um ídolo, uma crença, religião pop, inconsciente coletivo


rolando na grama

contando
descortinando

“segredos que todos já sabem

ou se não sabem desconfiam”

dono de alto nível de comunicação


antene-se

ou caia fora

(suspiro)

é ...
eu aqui agora declaro confissão

coisa pra ser delicada
escrita toda em letra minúscula

pequena rezinha
eu assim rezando baixinho na página ao santo de óculos escuros
ajoelhado em frente ao computador
meu pequeno oratório
peço:

“diz pra mim
qualé mermão?”

é pra ler baixinho
perceber as letras pequeninas em respeito

normal times new roman 12 75% Word 2007

falar pouco e sorrir

celebração



depois fumar um cigarro
exausto



e depois ligar todas as caixas de som do quarteirão

criando a partir de agora
o momento Bob Dylan em todos os lares do mundo

escolho o dia 18 de agosto
porque foi sis dias
ta fácil lembrar

2: 23 da tarde
sob o sol de terça feira

ninguém é obrigado mas o convite tá feito
esse tipo de coisa não é oficial
não passa pelas câmaras municipais ou comissões intersetoriais
não é discutido em seminários nos cursos de humanas
não é lei
não é facultativo
não dá dois dias de folga no serviço
não sorteia carro nem é na sessão de descarrego

existe dentro de nós

dentro de todo o universo que cerca a criação artística
e por mais desregrada
que a obra seja

ainda é a coerência
mesmo em meio ao aparente caos
que serve de mola motriz

a coerência é o costume
maior entrega do artista ao mundo

o artista mais violento e ultrajante
aos olhos sociais

tem um milhão de motivos a mais do que qualquer lacaio

pra estar vivo

não que eu seja algum fascista às avessas,
contra o que quer que seja
contra os lacaios ou qualquer outro grupo social
da elite ou do desbunde

contra nada nem ninguém
quase sempre a favor
por isso não me diga que

não

pois há

sim,

motivos pra estar

vivo

porque afinal

eu
não
estava lá

...