quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Poema anti-ácido




Quero poesia
pra ser lida pelos garotos no sinaleiro
pra ser escrita em portas de banheiros sujos
cuspida na tampa da latrina enquanto mija
e incendiada com cartões de crédito na grande fogueira anual das Bruxas
pra ser devorada com gula pelos adolescentes que matam aula
e carregada na mochila surrada
iluminada pelo sol, enquanto lê na boleia de um caminhão, que te levará até a próxima cidade ou posto de gasolina

Quero poesia roendo as cordas vocais dos agitadores das bolsas de valores
e fazendo umedecer a ponta das calcinhas das moças, que pensam serem os poetas
todos suicidas
quero poesia despenteando meus cabelos
endireitando, nas praças, a coluna dos velhotes

Deve ser indigesta, causar mal estar, incomodar os calmos de mais e fazer meditar os loucos
Eu não digo sobre a poesia formal, do escriturário ou do filhote social
digo sobre o inferno, sobre coisas sendo simplesmente impressas a fogo em sua alma
digo em querer enlouquecer, enfim falo do gozo
o toque sutil da Morte que lhe dá adeus e antes que desfaleça
lhe pisca e diz que não é desta vez
ainda

Quero poesia nos mercados, nas caixas registradoras, nas roupas das senhoras vestidas de carmesim, nas putas negras e nos açougueiros
poesia para os coveiros e suas pás

Ainda chegará esse dia
que dinheiro algum não valerá mais e de poesia as famílias farão suas catequeses católicas

Agora chega, preciso ir ao bar e beber

_Bom dia Seu Dercino, que lhe devo este mês ?

_ Hum... deixa me ver, Robisson... bem... dois poemas de meia lauda e um pequeno conto sobre as noites extremas nestas terras abaixo do equador... é, acho que isso basta.

_ Ahh... fantástico, Seu Dercino, tema simplesmente instigante... Agora me veja dois maços de cigarro e aquela dose de sempre...