segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Poema de Mae West a beira da morte


"as alturas me dão náuseas
facas deixam marcas
armas fazem barulho
venenos cheiram mal
águas me atormentam
cordas arrebentam

é
prefiro viver!!!"

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

céu e inferno


"meu inferno
é o céu
da sua boca
"

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Rio de Janeiro



Uma língua lasciva percorre as ruas do Rio de Janeiro
e varre a cidade em sopro libidinoso
um vento marítimo toca e cora as maçãs do rosto das moças
e os homens as devoram; suas carnes, em brutos pecados cotidianos

Praia do Flamengo
Rua Machado de Assis
Morro da Mangueira
Rodoviária Novo Rio
Lapa

Motoristas de ônibus fumam cigarros
Artistas da Globo me dão informações
“Chuva forte é a que vem do Cristo”
Um Hotel com o nome dela
Uma rua chamada desejo

Na praia, tecer desvarios ao nascer do sol
e bater palmas ao seu poente
pois sabemos que quando a noite inicia sua dança
as feras se soltam e permanecem a espreita
e desde os pontos de ônibus aos restaurantes da moda
vai-se logo sentindo na fronte o hálito da selvageria e violência oculta
evocando suor sexo e morte
e com um sorriso irônico e despretensioso
a dor, vai afinando seu violão
a tristeza, vai esticando o couro do pandeiro
e a tragédia puxando sua cadeira na roda de samba
e assim todo dia permanece sendo somente mais um dia
na cidade do Rio de Janeiro

Já nós, em nosso caminho lento
de flaneurs, braço dado a João do Rio
fazemos de todos os dias
nosso réveillon
e eu pulo então, não somente sete
mas milhares de vezes
com meus dedos
ondas sobre seu corpo
desejando pra nós
o que sabemos ser nosso

pois
o Rio de Janeiro nos faz acreditar que a vida pode ser boa
e sobretudo, que toda poesia não vale nada

*este poema contêm citação do escritor Rafa Carvalho

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

o político e o poeta


a diferença entre o político e o poeta é
que o
político
se interessa por algumas pessoas, e
o poeta
se interessa por todas elas

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Vênus in Chamas


Vênus saiu das águas numa manhã de Sol muito forte em Copacabana. De repente, algo ocorreu na praia, algo peculiar. As pessoas, homens e mulheres começaram a observar aquela moça. Tão bonita em sua beleza irretocável, era algo simplesmente diferente, extasiante. Ela era muito mais bonita do que qualquer banhista, modelo, atriz ou vizinha de condomínio. Um corpo perfeito, um cabelo que começou a secar ao sol e que formava um volume que realçava seus olhos e rosto. Ela era o desejo em pessoa. Ao ser vista, pensamentos ardentes se materializavam no ar. O seu jeito era febril. Ela era etérea e significava simplesmente, tudo. Era impossível não olhá-la ao caminhar atravessando a areia quente.
Ajoelhou e disse a um rapaz - atônito, ele tremia.

Posso pegar seus chinelos.
São da minha mulher... mas pode sim
E a canga?
Claro, leva.

Continuou seu desfile, num gingado sublime.
Passou na barraca e pegou uma água de coco. Simplesmente apenas tocou o balcão e sorriu aos freqüentadores.
Ao chegar ao calçadão, o trânsito foi seu mar na cidade.
Distraída, passeou seus chinelos e dedos delicados pela vista dos retrovisores e vidros fumês, e os motoristas – ah! os motoristas !!! – eles começaram parar, descer dos carros e filma-la.
A claridade da manhã incidia sobre o caos fazendo tudo ficar leve pueril e simples. As mazelas os defeitos as raivas os pecados os segredos e as desgraças, e também os medos, tudo se dissipava ali, na instância daquela mulher.

Aos poucos, uns passos rápidos às suas costas surgem.

Ei ei minha mulher quer os chinelos dela de volta, e a canga
Os chinelos...?
É sim, sim

Ela o olha, ele não resiste
Ele a beija eles se beijam
Que isso você ta beijando essa mulher, que porra é essa

Eles se separam
Que putaria é essa porra
Nada ... nada... você é linda demais, meu Deus


Ele se ajoelha e pega sua mão
ela sorri
Ele treme sua mulher o bate
ele sorri

Que que ta acontecendo aqui (um mortal pergunta)
Essa mulher aí ta tirando a roupa no calçadão, ta doida ficando pelada (uma outra mortal diz)
Essa mulher ta mexendo com o meu marido ( a mulher dele diz)

Os olhos esbugalhados da multidão e o sorriso de Vênus se degladiam.
Eles venceram ela.
Todos querem se aproximar, ver de perto, sentir o cheiro, poder observar detalhes, nuances, pintas, formas. Há muitas vozes no ar (mortais), um turbilhão de pessoas toma o espaço em volta dela, e Vênus é tocada, beijada, acarinhada, arranhada, esmurrada, quebrada e feita em pedaços, em poucos minutos.

Alguns saíram com nacos do seu corpo envoltos em suas camisas, correndo pela avenida e sendo perseguidos por outros menos afortunados, uns levaram suas partes ao mar e nadaram até o meio do oceano atlântico pra morrerem loucos apenas pra ficar na exata solidão com seu pedaço ideal dela; fosse uma mão apodrecendo do sal quente do mar, ou uma parte do seu lábio inferior e queixo, cova e pele morta.

Isso foi numa manhã em Copacabana...
O fato não repercutiu.
Foi hedonismo supremo.
Todos os envolvidos negam e ficou o pensamento pra quem não conseguiu sua parte da deusa; mesmo se indignando com os estupros e casos de pedofilia nos telejornais, a vaga idéia “- mas dela eu devia ter arrancado um pedaço”

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