sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Hoje não teremos aula, o Diretor matou a Professora



Ao se abaixar para apanhar a tampa da bic, a Professora não percebeu, que dois alunos trocaram as provas.
Mais tarde, tremendo sob o corpo do Diretor, se lembraria de que Júlio, o aluno mais atrasado, nunca fora bom em geometria para, justo hoje no exame final, apresentar tão boa avaliação; e disso, um instante relapso de atenção durante o sexo, resultaria na última briga que o casal teria.

_ Hoje não teremos aula, o Diretor matou a Professora Lúcia.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

sambinha do astronauta





Nas fornalhas do sol, um astronauta sem pátria
desenrolando fios de aço no braço
desenvolve uma dança


Cantando para a humanidade incendiada
passos no espaço, um “fox-trot” hi-tech
desencadeia um novo caos no universo


Estrelas suadas, de repente, sambam um ritmo estranho
e um bando de meteoros à sua frente,
lhes oferecem anéis


Mas um planeta imóvel, estático
destoa das constelações reluzentes

_ Eu não sei dançar... eu não sei dançar.

Se desculpou depois, dizendo serem os sapatos a lhe incomodar

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

TIMES NEW ROMAN




eu
adoro
as palavras
tão bonitas
em seus contornos e reentrâncias
poderia lê-las e tocá-las por horas a fio
e quando, literalmente as cantasse
e alguma fosse, com minha cara, com a minha cara
poderíamos ter um caso
transar a noite toda
&
formarmos,
eu e uma linda palavra,
famílias de proparoxítonas
e passaríamos tardes inteiras passeando em cadernos de caligrafia
imaginando como deveria ser chato morar num livro ou num dicionário
e nunca se aproximar
da língua de ninguém



eu
passeando pelas frases encontrei um sujeito
ele
e minha vida se encheu de verbos
sonhar, sentir
tocar, trair
o substantivo nunca foi insubstituível
você
alguém
ninguém
pois o tempo
o tempo só não destrói as palavras

nós adoramos as palavras
como estas ... cantadas, impressas
na página
que
você eu nós
lê leio lemos

Esse fim de semana, 14,15 e 16 de setembro, aconteceu o Festival Jambolada aqui em UberCity, três dias de rock com várias das mais bacanas bandas de rock do cenário independente nacional. Nós da Juanna Barbêra tocamos no primeiro dia, sexta. Nos dias anteriores, ansiedade, frio na barriga, você se percebendo rindo sozinho em lugares públicos em plena luz do dia movimentado, a imaginação criando shows, escutando já os acordes das músicas e o barulho da multidão. Um show é sempre celebração, incesto coletivo, é quando transamos conosco, com os olhos arregalados do público a nos observar. O show, o espetáculo é a completa exposição, todos vêem sua bunda branca, mesmo que estejam na última fila.

A Juanna Barbêra iria tocar antes do Tom Zé, mas atrasos na montagem e passagem do som e na chegada do próprio Tom Zé fizeram com que a organização nos passasse pra depois dele e depois de nós havia outras quatro bandas, Los Porongas, Vanguart, Porcas Borboletas e Daniel Belleza e os Corações em Fúria nessa ordem. O atraso fez com que os shows de todas as bandas ficassem mais curtos, o que também aparentemente não incomodou a ninguém, a não ser, com razão, o Daniel Belleza, que entrou no palco às 5 da manhã e por motivos de contrato com a casa os organizadores tiveram de interromper seu show antes o final.

O público lota a pista da casa de espetáculos Acrópole, a morada dos deuses na mitologia, para assistir ao ídolo Tom Zé, que entra com o rosto pintado com motivos indígenas, ao que me parece, e logo no início; visivelmente irritado com uma pessoa na platéia ou com toda a platéia, convida um sujeito para cantar em seu lugar, já que, pelo que entendi, o cidadão estava pedindo aos gritos uma música com insistência, ao menos aos olhos e principalmente ouvidos do Tom Zé.
O rapaz então cantou desafinado e chapado “Fliperama”; acho que esse é o nome da música, e a galera vaiou. Esse mesmo sujeito foi o que, segundo nos disseram, no fim do nosso show praticamente destruiu nossa máquina de escrever Olivetti que usamos na performance tocando justamente essa música, Times New Roman. Uma pena porque era relíquia do vovô, mas a gente descola outra.

Nisso fomos pro camarim. De lá ouvíamos a música, o público, sem nos atermos aos detalhes e ao que acontecia. Subimos no palco e fizemos o nosso show para um público bacana, sorrisos no rosto, gente dançado e batendo palma, flashs de fotos sendo tiradas e uns poucos que já nos conhecem, pois somos uma banda muito recente ainda, cantando as músicas.

Nosso som http://www.myspace.com/juannabarbera tem nuances de psicodelia e guitarras altas, temos também músicas que saem mais pro sambinha, pro suingue, mas nesse dia o show foi mais porrada. No palco, como um resultado natural de nossas influências e intenções, dialogamos com performance, teatro, poesia e nonsense. Pra muitos somos BGs, ou bicho grilos, filhos diretos dos Novos Baianos e dos Mutantes, mas quem nos dera sermos tudo isso, somos apenas uma banda descobrindo sua identidade. Vai saber.

Me lembrei agora duma viagem, com uma galera pra Recife, e uma senhora nos perguntando dentro do ônibus de linha.
_Ei, vocês são hippies ? - e nós, aproveitando o ensejo que a época permitia, respondemos.
_ Sim, somos “Hippies” of Tradition.
Outra vez, na Rodoviária de Brasíliia, uma mãe diz pro filho, apontando pra nós.
_ Ta vendo meu filho, estuda, senão vai ficar igual a esses moços.
Durante o transcorrer da noite, eu entorpecido de música, extasiado com a festa, hoje recordo de que uns saíram rindo até as orelhas do coroa maluco e outros se sentiram ofendidos de terem de ouvir esporro num show.

Depois veio o show delicado eu diria, sutil e bem arranjado do Los Porongas, uma banda sincera, com um som de apelo radiofônico, porém com muita identidade. Eles, como os Porcas, também não querem enganar ninguém. São uma banda de rock muito boa, e deixam claro o que querem como proposta. Olhei pro palco e imaginei toda a selva amazônica e a imensidão do Brasil, e pensei :
_ Putz, esses caras sempre estiveram lá, no Acre porra !!!

Nessa hora me senti muito contente pensando que depois viria Vanguart, uma banda que desafiaria qualquer prognóstico a uns anos atrás. Vinda de Cuyabá, Mato Grosso, Pantanal, fazendo rock folk em inglês. Instalou-se no ambiente um clima de festa e contentamento. Era bom ver o Vanguart, era o que todos queriam, uma banda no auge, lançando seu primeiro disco e numa maturidade de criação e técnica. As músicas executadas com muita precisão e tão boas quanto no disco, senão melhores ao vivo, como Hey! Yo Silver, que me pareceu mais porrada.
Depois, Porcas.
“Eu sinto muito, mas eu não sinto nada”, é uma das músicas mais fantásticas que já ouvi. E uma batida de pandeiro que não desgruda da cuca.

“... a ponta dos meus dedos
percorrendo na superfície d’água
as letras do teu nome ... “

Ou algo mais ou menos assim. Na primeira vez que ouvi isso, fui embora com um calor no peito, muitas imagens me vieram a cabeça, um tanque cheio d’água onde eu brincava quando moleque, e, engraçado, a lembrança duma senhora que me olhava quando tinha uns cinco anos de idade.

No show final, a apoteose do rock, que tinha sido a noite, se concluía nas mãos de um de seus experientes aríates, Daniel Belleza com suas calças de couro e seu espetáculo visual e lascivo. A androginia e a sedução à serviço do rock e das guitarras altas. Já rouco, eu cantava “...aonde estão as flores da sua cabeça...“?

Adiante, essas linhas seriam poucas para descreverem tanta música, tantos papos, tantas pessoas, sorrisos, durante os três dias que só estavam, pra todos ali na sexta, começando.
Times New Roman que era poema e se tornou canção, está aqui num vídeo http://www.youtube.com/watch?v=Qrg1GEgFrSs gravado num show em maio deste ano no Arte na Praça, onde no domingo 16 de setembro, os Móveis Coloniais de Acajú destruíram tudo.
De quebra, escrevendo este texto, e pesquisando na net, descobri uma banda, que se chama New Times Roman (foto acima).

... e que se foda ...

.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

dos prazeres da vida aos segredos mortais



Ando em falta comigo mesma
ando solta de cruel leveza
ignorando as rédeas e os compassos das mesas de café da manhã
mentindo ao meu justo e lustroso marido;
(enevoado em tergal e pasta preta)
[dizendo sempre que me distraio em bingos nos cair de tarde

Já não sei mais de mim mesma
já não consigo sentir nem mesmo a agonia de minha torpeza
podia morrer hoje,
melhor, podia mesmo ter morrido ontem
cada dia que passa sinto que é dia a menos de nós dois
[dos calafrios e do frio na barriga quando me olha e me abraça

Um dia quando descobrirem minha audácia,
já senhora de idade, rirei da gagueira do meu inquiridor a me perguntar:

_ Mas e o dinheiro que trazias do bingo.

_ Ah meu amor, tudo tem seu preço... dos prazeres da vida aos segredos mortais ...

Substância



que falta de graça escrever poesia em 2007.
pra que poesia em 2007 ?
não há chapéus cuco, nem carruagens, nem canetas tinteiro, nem tuberculose ou tavernas...
hoje há laptops, terrorismo, incêndios florestais, e computadores de ultima geração...

queria escrever um poema em 1923
[enchê-lo de paralelepípedos e ruas de tijolinhos
pôr nos versos umas sacadas e belas moças com decotes a me olhar
fazer valer a bebedeira enquanto risco um fósforo e desapareço...

sobre o que dizer hoje, senão reclamar de que estou tristonho e por isso reclamo...
e
sublinhar a mística de que todo poeta
é um sonhador...

Urubus, essas aves agourentas



ontem pela manhã vi da minha janela uns urubus devorando a carcaça dum pobre poeta, logo se aproximaram hienas e só dos ossos fizeram a sesta os cachorros que se atrasaram pra a festa...

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Poema de Araque


poema cíclico, tempestuoso
pura tragédia
dizendo sobre as hordas que invadirão sua vida se não manda-lo
a 15 pessoas

poema sentimental, lacrimoso
de amor platônico
desconfiado que sua própria frase
lhe traia com o verso
da estrofe do 301

poema insano, cheio de garras
espumando o canto da boca
desejando vísceras ao desjejum

poema instantâneo, fast food
pouco nutritivo mas bastante prático
5 minutos em banho maria
misture o que quiser
leia quente

poema altaneiro
festivo brancaleone
de trançado chapéu de palha camponês
e rosto rubro, do rapaz
que ao ver
a meia,
e mais ainda,
a canela fina
da moça em seu vestido rodado
cora

poema de araque
falso, dissimulado
daqueles que ao te verem
não te cumprimentam
e
olham de lado

O Poema


Um poema como um gole d’agua bebido no escuro.

Como um pobre animal palpitando ferido.

Como pequenina moeda de prata perdida para sempre

[na floresta noturna.

Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa

[condição de poema.




Triste.

Solitário.

Único.

Ferido de mortal beleza.

(Esse não é meu, mas é de meus preferidos do Mario Quintana, e da vida...)

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Se o Papa é Pop, Deus é Punk, Jesus era Hippie e o Diabo é o Pai do Rock.



Roteiro sobre o eclesiastes roqueiro para apresentação de peça teatral em inferninho na Av. Monsenhor Eduardo

... Jesus
Jesus era filho de pais separados. Aquela coisa né, criado pela mãe, colchão e playstation na sala. O pai sempre aparecia nos fins de semana. Nasceu d’um namoro relâmpago entre o então estudante de engenharia civil e a colegial do 2º ano. Quando o moleque foi crescendo, as dificuldades e a precocidade do casal puseram fim à relação.
Jesus não se parecia com o pai e pairavam mesmo umas dúvidas por parte dos parentes de José.
É que os dois são muito diferentes na fisionomia.” _ diziam.
A mãe nunca foi questionada sobre a paternidade mas com seu humor peculiar responderia a questão;
Lógico que é de José, eu era virgem porra, de quem seria o filho? Do Espírito Santo?
Mas José era moreno, e Jesus tinha olhos claros e cabelos loiros.
Vai saber né...
Agora com 20 anos, Jesus tem uma banda bicho grilo enorme com uma galera que só quer saber de fumar maconha, beber vinho e tocar violão. Certa vez tomaram tanto ácido que ficaram 40 dias perambulando pelo deserto buscando visões e mais visões.
A namoradinha de Jesus, Mary Lena, é daquelas fanzocas de músicos de bandas que não pode ver um cabeludo barbudo que já pula no pescoço.
Jesus curte muito um roqueiro antigo, Abraão, que morreu na década de 70 sufocado pelo próprio vômito depois de cheirar e tomar todas no auge da carreira com apenas 270 anos.
O grupo ainda nem tinha o nome de JC e seu Bando, quando um empresário muito esperto, percebendo o talento e o carisma da rapaziada e a possibilidade de sucesso e grana no bolso, pintou na área.
Meus amigos, vocês estão feitos, prontos pra explodir nas paradas, da Babilônia a Jerusalém. Venham comigo que vou fazer vocês grandes. Confiem em mim. Muito prazer, meu nome é Judas Iscariotes.
Assim começou a carreira de Jesus. Seu primeiro hit foi “Eu sou o caminho”.

... O Papa
O Papa fazia um som pop mela-cueca, bem fácil, participava de programas de auditório e cantava no playback. Saía na capa das revistas da moda, e comia as dondocas de TV. Fazia campanhas publicitárias milionárias e vendia sua imagem de bom mocinho.
A Banda do Papa teve outro vocalista, até um tempo atrás, o bom e velho Jonhy Paul, muito adorado pelos fãs. Quando ele morreu foi uma via crucis ao seu enterro, e ainda hoje os fãs se dividem entre a obra do antigo e do novo vocalista. Tipo o Sabath com e sem o Ozzy.
A gravadora esperta, numa fantástica jogada de marketing, não querendo perder a galinha dos ovos de ouro e os dólares no bolso, lançou um concurso em um programa de TV dominical para escolher o substituto de Jonhy Paul. Pela Internet a votação bateu recordes de acesso e o escolhido pelo público foi o figura Chick Bent, um descendente de alemães de olhinhos azuis e esperto na dança da pélvis.
Mas Chick Bent não se adaptou a vida do show bussines musical.  Tinha uma alma fundamentalmente careta e apegada a questões morais. Orgias com groupies e festinhas na casa de traficantes não o interessavam. Ele não tinha uma deleite hipster.
Enfim, a Banda do Papa hoje tenta se reerguer com seu latino sucessor , o vocalista Francis Kool. Torcedor “hooligan” de times argentinos de futebol e ativista das causas tangolescas, afirma ser Carlos Gardel seu símbolo sexual máximo e não se desvia de perguntas levemente picantes em programas cléricos e dominicais de entrevistas.
Em algumas biografias não autorizadas, autores afirmam que Jonhy Paul foi morto pela CIA, assim como Kennedy, Morisson, Lennon e Abelardo Barbosa, o Chacrinha.

... Deus 
Deus vivia no ABC Paulista e mesmo já bem coroa ainda ostentava nas ruas a moda punk, coturno, camisetas rasgadas, alfinetes nos mamilos e um moicano meio ralo. Não perdia a oportunidade de dizer, com a propriedade que só ele tinha;
_ There is no future and God isn’t dead.
Afirmava ainda, orgulhoso, ter inspirado uma das melhores músicas do Sex Pistols, mesmo nunca tendo conhecido pessoalmente a Rainha.
Deus mora com a mãe e a avó e definitivamente é um cara que não deu certo na vida. Pretensioso, se considera o maioral e não abre mão de ser reverenciado. Dizem que quando jovem era muito talentoso para as artes, mas depois de alguns problemas com a polícia e dois anos num reformatório por conta de alguns assaltos mal sucedidos, Deus se rebelou contra a sociedade abraçando a causa punk. Defecou em praça pública, quebrou orelhões e montou seu grupo de punk rock sem nome compondo músicas de três acordes para trombetas.
Deus é um metalúrgico punk do ABC Paulista.

... O Diabo
O Diabo gerenciava uma boate barra pesada, o Hell's Club, e dizia ter sido amicíssimo de Elvis, em sua fase final, gorducho e entupido de pílulas. Quando o Rei morreu, sentadão na privada foi o Diabo que puxou a descarga.
Suas preferências musicais e influências vinham do blues e do Rock dos anos 50 e 60; Robert Johnson, Muddy Waters, Carl Perkins, Stones, Cream e toda essa turma. Sua indumentária básica incluía quase sempre, brilhantina e jaqueta de couro. Tinha toda a coleção original do Robert Crumb.
As melhores bandas, tanto as já estabelecidas quanto as iniciantes passavam pelos palcos do Hell's, e tanto Jesus quanto Deus eram figuras fáceis nas festas.
O Papa pintava às vezes, mas diferente de Deus, que cuspia no chão ao entrar, ele já fazia um disfarçado sinal da cruz.
Carolinha” _ dizia o Diabo fumando um cachimbo “uruguaio”.

Entre os ilustres freqüentadores do Hell's Club circulavam Keith Richards e o Rabino Henry Sobell, que como vários outros, bebiam de graça. Suas alminhas já haviam pagado os tragos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Quando eu morri


Quando eu morri
não me levaram pro céu.
Me jogaram numa kitnete no centro de São Paulo.
Disseram _ “Fica aqui, não abra as correspondencias e não faça barulho depois das 10.”
Inexplicavelmente não havia luz na kitnete e mesmo assim eu enxergava às mil maravilhas em plena negra madrugada.
Não me constrangi e pensei _ “Deve ser assim quando se está morto.”
Nos primeiros dias, assisti muita TV, mas logo me chateei. Era a mesma programação dos vivos. Virei a tela para a parede e tirei o plug da tomada.
No Céu seria, sempre no horário nobre, a reprise do calvário do filho de Deus.
No Inferno, a Noite dos Mortos Vivos.
Não sentia muita fome, na verdade nenhuma fome, mas como havia comida no freezer, comia.
Coloquei as leituras em dia. Maiakowski, Foucalt, Guimarães Rosa, Kerouac.
Era pensar no livro que queria, e pega-lo dentro do armário. Isso não funcionava pra outras coisas, como cigarros e uisque. Mas havia na geladeira, cerveja e duas garrafas de vinho vagabundo, que iam quebrando um galho.
Comecei a escrever um diário.
O primeiro capítulo foi sobre as férias que passei na fazenda aos 12 anos, o seguinte sobre quando roubei um carro em Porto Belo, pra atravessar a fronteira com o Paraguay. O terceiro decidi que seria sobre aquela fantástica partida de futebol em 99, quando fiz três gols e abri o supercílio do goleiro com uma cotovelada. Segundo os amigos, involuntária.
Os dias foram passando.
Eu ali de chinelo de dedo e bermuda. Pela janela via o movimento da rua. Os pedestres, os carros, as pessoas, toda agitação da cidade. Estava no terceiro andar e havia muitos outros acima desse.
Escutava barulho de gente, famílias, casais, crianças. Acima e dos lados. Comecei a sentir falta, desses demônios, as pessoas. De repente me vi falando sozinho, pra não perder o costume de dizer, ouvir minha voz. Criava diálogos e cenas, personagens e situações.
Uma briga, um encontro, uma transa... Hum...
Numa noite qualquer, lá pelas três, vieram me buscar, vesti minha calça e sapatos e pus a camiseta.
_ “Já não era sem tempo hein?” _ mas naõ se deram ao trabalho de responder. E lá da porta, sem nem mesmo entrar, já virando de costa, como é de costume a quem tem muita coisa ainda a fazer, disseram. _ “Apague a luz quando sair.”
E eu sem entender nada, ouvi minha voz dizer.
_ “Luz ? Mas que luz?”

A letra r




Todos


os meus


poemas


contêm a letra


r




Sem ela


não há amor


no


poema


domingo, 2 de setembro de 2007

Te(n)são

não fique
tensa
,
quando por acaso
ver que
pensas
,
que
dispensa
a
pouca
recompensa
&
repensa
,
pois a completa indiscrição
não compensa
,
apenas
as vírgulas
IN
tensas
...
OUT