terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Jorge Ben

Jorge Ben,
um de meus herois
sem acento e todo erro
cada umas dessas 'e dum disco, vale a pena procurar e ouvir
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AS ROSAS ERAM TODAS AMARELAS

O adolescente, o ofendido, o jogador, o ladrão honrado
Todos sabiam
Mas ninguém falava, esperando a hora de dizer sorrindo

Que as rosas eram todas amarelas
Que as rosas eram todas amarelas
Que as rosas eram todas amarelas
Lendo um livro de um poeta da mitologia contemporânea

Sofisticado, senti que ele era
Pois morrendo de amor...
Renunciando em ser poeta dizia

“ ... basta eu saber que poderei viver sem escrever mas, com o direito de fazer quando quiser.”

Porque ele sabia, mas esperava a hora de escrever que as rosas ...
Que as rosas eram todas amarelas
Que as rosas eram todas amarelas
Que as rosas eram todas amarelas

o adolescente
o ofendido
o jogador
o ladrão honrado
Todos sabiam
Mas ninguém falava esperando a hora de dizer sorrindo
Que as rosas eram todas amarelas


PORQUE E PROIBIDO PISAR NA GRAMA

Acordei com uma vontade de saber como eu ia
E como ia meu mundoDescobri que além de ser um anjo eu tenho cinco inimigos
Preciso de uma casa para minha velhice
Porém preciso de dinheiro pra fazer investimentos
Preciso às vezes ser durãoPois eu sou muito sentimental, meu amor
Procuro falar com alguém que precise de alguém
Pra falar também
Preciso mandar um cartão postal para o exterior
Para o meu amigo Big Joney
Preciso falar com aquela menina de rosa
Pois preciso de inspiração
Preciso ver uma vitória do meu time
E, se for possível, vê-lo campeão
Preciso ter fé em Deus
E me cuidar e olhar minha família
Preciso de carinho, pois eu quero ser compreendido
Preciso saber que dia e hora ela passa por aqui
E se ela ainda gosta de mimPreciso saber urgentemente
Por que é proibido pisar na grama

VELHOS, FLORES CRIANCINHAS E CACHORROS

Deus todo poderoso eterno pai da luz, da luz
De onde provem todos bens e todos dons perfeitos
Imploro vossa misericórdia infinita, infinita
Deixai-me conhecer um pouco de vossa sabedoria eterna
Aquela que circunda o vosso trono
Que criou e fez que tudo faz e conserva tudo
Fazei-me digno enviando do céu prá mim prá mim
Imploro por vós e por Jesus Cristo, por Jesus Cristo
A pedra celestial angular miraculosa, miraculosa
Estabelecida por toda a eternidadeMaravilhosa, maravilhosa
Que comanda e reina convosco
Que comanda e reina convosco
Meu Deus todo poderoso
Meu Deus todo poderoso
Mas eu preciso salvar os velhos, eu preciso salvar as flores
Eu preciso salvar as criancinhas e os cachorros.

DESCOBRI QUE SOU UM ANJO

Não comigo não comigo nunca mais
As coisas agora vão mudar
Pois até um cego pode ver
Que eu não sou o que você diz
Por isso eu não vou mais
Curvar minha cabeça
E nem beijar os seus pés porque
Pois eu descobri que sou um anjo
Eu descobri que sou um anjo
Não comigo não comigo nunca mais
As coisas agora vão mudar
Mantenha distância
Quando eu voltar
Pois quando eu fui o caminho
Era só de pedras e espinhos
Mas na minha volta ele será
Estrela e rosas porque
Pois eu descobri que sou um anjo
Eu descobri que sou um anjo
Não comigo não comigo nunca mais
Mantenha distância
Quando eu voltar
Pois há muito tempo
Que meu amor por você acabou
Olhe não chore pois você chorando
Meu sentimento pode ficar
Com pena de você
E deixar até você gostar de mim
Por isso mantenha distância porque
Pois eu descobri que sou um anjo
Eu descobri que sou um anjo
Pois eu descobri que sou um anjo
Eu descobri que sou um anjo...
Eu descobri que sou um anjo

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sinal dos tempos

Realmente ando ficando velho
Si fim de ano vi o especial do Roberto Carlos e juro que gostei dumas coisas


“Vivo condenado a fazer o que não quero
então bem comportado às vezes eu me desespero ...”


Admitir-se faz parte do auto conhecimento, diz o Budismo



feliz ano nove a todos

São Jorge terça-feira 23


Anteontem terça feira 23 de dezembro
atravessando a rua vi São Jorge montado em seu cavalo
parado no cruzamento da Afonso Pena com a Quintino

Olhos no horizonte
o guerreiro meio perdido estancou frente ao sinal vermelho

Intuitivamente havia de ter percebido
que não era momento de desafiar dragões de aço e ferro que soltavam
não das ventas mas sim das caudas que não tinham
negra fuligem

Sinal aberto, asfalto molhado pela chuvinha fina do verão de fim de ano
avançou entre os automóveis e os pedestres
sem causar furor ou mesmo consternação

Hoje ninguém se importa mais com santos. Qualquer oca celebridade os atrai.

Eu, de alma incendiada pela presença de tamanha entidade
me permiti segui-lo abandonando todas as compras, compromissos e horários
que tinha no centro da cidade

Quando teria a oportunidade de encontrá-lo daqui à eternidade
Da calçada puxei, gritei assunto

_ Ei São Jorge ... ei.
_ Diga rapaz.
_ Cara, um prazer te ver por aqui. O que pretende ?
_ Rapaz, procuro um endereço. Trago relíquias e oferendas da Capadócia.
_ Deixa ver.

Era o Camelódromo Central. São Jorge trazia amuletos e cartas pro chinês que vende tênis e que agora queria abrir uma lojinha de produtos religiosos.Puta globalização mesmo.

_ Te levo, bora lá meu velho.

Estacionamos o cavalo entre os mototaxistas e entramos.
Fiquei de lado e em respeito deixei os dois confabularem por um tempo.
Mesmo porque também não entendia o que diziam, uma mistura de chinês com língua morta.

_ E agora bicho. Já tem de ir ?
_ Não.
_ Legal então vamos dar um rolê. Pode ser ?
_ Sim.

Pensei rapidamente num roteiro bacana pro Santo na cidade de Uberlândia.
Então liguei pra namorada e comuniquei.

_ Pequena, hoje só amanhã. To com São Jorge aqui do meu lado e vamos tomar umas por aí...

No que ela, reticente envolvida às 3 horas da tarde com seu trabalho, nas vésperas do Natal, disse.

_ Tá tá, mas liga pra mim à noite, beijo.
_ Ok . Beijo me liga (piadinha pronta)

Austero, São Jorge não é de falar muito. E eu, devoto cúmplice que sou do alheio silêncio, compactuei com sua discrição.

_ São Jorge meu cumpadre, pena hoje ser dia de chuva, senão nosso passeio começaria pela cachoeira de Sucupira. Coisa linda é o lugar.
_ Ora rapaz não se incomode com o tempo nublado. Diga o caminho.

Meio a contragosto dei o rumo já imaginando a água fria que enfrentaríamos.

Ao pegarmos a rodovia o galope do cavalo riscava de faíscas o asfalto como cobras luminosas ziquezaqueando.
Nos cabelos um vento lindo e todos os carros sendo deixados para traz.
Qual 4x4 seria compatível com a velocidade divina?
Os motoristas com suas famílias, mulheres e crianças batiam a mão pra nós em cumprimento.

Na mesa da ceia de Natal, contariam aos familiares, descrentes, entre uma e outra história.

_ ... e tem mais, nem te conto. São Jorge com um cabeludo na garupa nos cortou perto de Uberlândia. Os meninos estavam dormindo e quando sacudi a Marisa eles já tinham sumido como um raio, é verdade, é verdade...

Para minha surpresa o céu nublado começou a abrir e o sol foi surgindo quente, dando motivo pra ir tirando a camisa. O velho Jorge em sua armadura nem se abalava com o mormaço.

Chegamos à Cachoeira de Sucupira, deserta como deve ser numa terça feira, sua água maravilhosamente brilhante refletindo a luz do sol.
Eu lá me fui dar um mergulho, enquanto São Jorge retirava suas armaduras, mantos e armas.
O cavalo, quieto ao nosso lado, bebia uns goles com muita sede.

São Jorge aparentava uns 50 anos, tinha o corpo forte e cheio de cicatrizes, que preferi não esmiuçar as origens. Nadava bem e logo para meu espanto estava saltando do topo da queda, uns 15 metros no mínimo.

Tchbum !!!
Pela primeira vez o vi sorrir naquele dia.

Nos vestimos e ao irmos embora pediu um minuto. Pensei que o cara ia mijar. Mas não. Atravessou os arbustos e se ajoelhou sobre uma oferenda com duas velas e algumas frutas que alguém havia deixado. Ficou assim por um tempo e depois retornou. Não me dispus a lhe perguntar porque do tal procedimento. Consenti e compreendi que era tarefa e trabalho de santo.

_ Bom agora vamos lá em casa, quero te aplicar um som. Tudo bem ?_ Claro._ Depois vamos num bar perto da Universidade tomar umas. Vou te apresentar pruns amigos que são todos teus fãs.

Ao chegarmos em minha casa, o cavalo não podia, obviamente, entrar. Então o amarramos num poste no terreno baldio da esquina. Ao abrir o portão e passar a chave na porta da sala, me dei conta de que havia um santo em minha casa.

_ Quer um café ? – coisa mais besta de dizer prum santo._ Não.

Liguei o computador. Selecionei o som e equalizei as caixas Satellite.Olhei pro lado e esperei, ainda sim, não esperando absolutamente nada.A música veio como sempre, fantástica.

_ Jorge de Capadócia do disco Solta o Pavão de 1975 do Jorge ainda Ben.
_ É issaí.
_ Tenho todos os Jorge Ben. Deixa o Jorge Ben de lado Robisson. Já conheço tudo. Me surpreenda rapaz. – disse isso se levantando e olhando minha coleção de discos e meus livros na prateleira.

Rolei a lista de reprodução de Jazz.Começou com Charles Mingus estraçalhando em “Moanin”.Bolei um baseado e fumamos, eu e São Jorge, vendo a fumaça subir pelo ar pra fora do quarto pela janela.

Era engraçado como nos entendíamos em silêncio.

Li uns poemas meus que ele parece ter gostado muito. E contei sobre meus planos mirabolantes pra minha vida e de como pretendo lançar meu livro. Obviamente fiz questão de sua presença e o convidei pro lançamento.
Depois de um bom tempo com Charlie Parker, Thelonius e uns outros, decidimos seguir caminho ambos com os olhos vermelhos.

Ao chegarmos ao Bar Verde, havia uma confraria de amigos e conhecidos espalhados pelas mesas, coisa pra mim inacreditável por ser praticamente férias da faculdade.
Acreditei, arrogante, ser um sinal do destino ao reunir tantas almas em torno do que viria a ser o encontro de suas vidas.

São Jorge se sentou e pedimos uma cerveja, uma dose e uma porção de queijo com orégano. Eram 6 horas da tarde e o sol se preparava pra se pôr. Friozinho. Fim de tarde na companhia de São Jorge. Quem acreditaria.O santo, agora mais à vontade, falava sobre guerras e batalhas em terras longínquas e de como havia se tornado o padroeiro da Inglaterra.

_ Mas depois das Malvinas, da Thatcher e agora o Blair e essa merda toda de Afeganistão, desisti daquele povo.

Fazia sentido. Muito sentido. Até porque a Igreja Católica já o havia expurgado do rol oficial dos santos há algum tempo. Hoje São Jorge é um santo rebelde, sobrevive através da fé e da tradição e não deve obrigações nem pede autorização ao Vaticano para o que quer que seja. Bebemos em sua homenagem, mais um marginal a nos abraçar.

Ficamos realmente altos e felizes depois de umas cervejas e doses da boa pinga de engenho. Umas moças se engraçaram com São Jorge, que retribuiu os agrados oferecendo ao violão bonita canção medieval do norte da Capadócia.Disseram elas, ser ele, o macho alfa da nossa mesa, eram biólogas perdidas no Campus Santa Mônica. Querendo um pouco mais de diversão nas suas vidas.

Às 9 da noite decidimos ir embora. O Bar Verde sempre fecha a estas horas, pois o Bairro Progresso, apesar do nome, é perigoso durante a noite. É um antigo loteamento incrustado no hoje mais populoso bairro da cidade, o Santa Mônica. E os donos, Reinaldo e Ronaldo, às 7 da manhã estão de portas abertas. Além do que o Verde mais do que um bar é uma mercearia, ou “Venda”, como diria minha Vó , em que você encontra de tudo. De tudo mesmo, até santos vivos.

Nos despedimos dos amigos entre gargalhadas e abraços e seguimos, os dois caminhando sob uma chuvinha fina, levando pelas rédeas o cavalo.

_ E agora vai pra casa?
_ Sim.
_ Aonde anda morando? Rola uma visita?
_ Você não conseguiria chegar lá.
_ Sei.

_ E você vai pra tua casa?
_ Sim.
_ Te deixo lá sobe aí.
_ Não. Não precisa. Caminhar na chuva é dos meus esportes prediletos.
_ Também gosto. De onde eu venho não chove muito.
_ Então vamos indo.
_ Volto na próxima terça feira 23.
_ É mesmo? Vou olhar na folhinha pra sacar quando será.
_ É em Julho. Antes que eu me esqueça, toma pra você.

Uma medalha e um escapulário.

Estava escrito em letrinhas miúdas; “perseverança ganhou do sórdido fingimento e disso tudo nasceu o amor”.

_ Até nossa próxima terça feira 23, Robisson.
_ Até.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Coração Mofado

Encontrei arrumando o quarto sis dias uma caixinha empoeirada
que há muito não via

como num filme, se consumou o flashback e lembrei

do momento fatídico quando arranquei do peito sangrando
o coração em desuso
e permaneci tristonho por alguns minutos pensando se o comia;
autofagia desesperada
ou se o doava ao Hospital das Clínicas

ponderei e preferi não fazer ninguém mais sofrer
então guardei na primeira caixa de papelão que vi pela frente
pois como diz o Edu Guedes
aquele cara do programa de culinária na TV

_ Na cozinha, como no peito, devem-se evitar utensílios que não tenham funções e só ocupem espaço

e agora lá estava ele, meu coração mofado
ouvi que ainda batia baixinho

então

sem pestanejar o pus no tórax novamente
seu devido lugar
e respirei o ar inflado
sentindo de novo um brilho no olhar

daí saí pra ver o dia
a vida
e decidi nunca mais arrancar

meu coração

seja por livre arbítrio
ou por decepção

.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Poema (?) de teor pessoal pra nunca ser publicado



toda uma ala do segundo andar do Hotel, si fim de semana promoveu uma grande festa em nome dum artista, algum de vanguarda, como dizem em Paris
muita bebida e destilados

a balbúrdia aconteceu no quarto que dá pros fundos, então a música tava no talo

Rssssss

nessa noite eu tomei conhecimento do Pata de Elefante
aliás a essa altura muito louco de Gyn
amigo que sou do proprietário do apartamento pedi uma cópia, no que ele já fez saltar no mequintochi

_ Leva ... gravei uns Cream e Yarbirds também

Eita !!!

Pata de Elefante é, ou vem sendo nos últimos dias, o som dos corredores desse pardieiro

solto no shuflle e leio poesia, deitado nu

Vou morrer logo logo ao acordar
Minha sobrinhazinha diria

Loguin titi ?

Ahhh dá vontade de chorar



Mas ainda resta tempo para escrever um conto chamado Empire Vampire sobre uma organização de vampiros que caça os últimos humanos e os aprisionam até serem negociados, vendidos pra serem devorados

Sem muito personagem principal, enredo abrangente sobre o enfoque da situação do universo apresentado

Achei a idéia boa

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Qual é o nome disso ???


dei sopa pro azar
e
fui condenado a viver com um demônio nas costas.

pra sempre será

eu e ele

a lutar nas noitinhas
_ Oh !!! Valha-me dEUs ...
.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Alguma ajuda (enquanto espero)




Ser solitário é querer fumar um cigarro quando não te sobra mais nada e lady stardust e rocknroll suicide cortando teus pulsos e o ar, daqui até a eternidade, cercado de trinta milhões de pessoas.

Lembrar d’alguém, lembrar com força, sentir com vontade, não se importar em parecer patético ou comovente.

Olhar de verdade nos olhos, ter do que se envergonhar.
Ser instintivo ter premonições.
Suar sentado no banco de passageiros..
Agir antes do despenhadeiro.
Evitar a queda.
Levitar.

Tocar o ombro amigo.
Sorrir ao ser cumprimentado.
Nada de balbuciar falar baixinho.
Dizer gritar.
Cada palavra cada pedaço de sílaba sangrando na boca, mastigar seus dentes e íntimos sentimentos
Cuspir e jogar fora.
Expurgo e dor.

Dói.

Ser místico
ser mais relapso
ser intenso
ser só e emanar seu santo
beber da água dos prazeres e limpar suas feridas
lentamente

Ter amigos cura dores

Imersão




Dez mil soldados atravessando os canais de Amsterdam
Marchando solenes sobre as terras encharcadas
Bons, maus, tolos e inocentes

Nos olhos
a transição entre as trevas e a iluminação
nos domínios secretos
do seu coração

Preferir percorrer com destreza as agruras dos dias
à fugir da alma e suas impurezas

Verdade imersa na solidão de cada homem
Incólume e sozinho
Percorrendo trilhas de fumaça, sal, sol e sangue

Vencendo seu diário dragão, passo a passo pra fora do abismo e da escuridão



.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

As barras das calças



As barras das minhas calças não me deixam mentir dos lugares onde andei

Escritos em laminha fina todos os bares, boates, butiquins e biroscas além das casas dos amigos e das ruas

Grafado em grandes carimbos as salas de aula, os escritórios, auditórios, repartições e subseções que já freqüentei

Nos calcanhares, os tropeções e as correrias

os passos bem dados

e os além do abismo
As barras das calças não o deixam mentir dos lugares onde andou

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Acaso, caos e coincidências


Acredito em coincidências.
Acredito em acaso. Em instinto.
Meu Deus também joga dados, mas também sai às vezes pra dar um rolê.
Deixa o tabuleiro à mercê das crianças.

Acredito em premonições e no poder intuitivo.
Acredito no que dizem os arrepios na espinha. Creio em dejä vus.
Tento sempre que me lembro, decifrar meus próprios sonhos.
E os dos outros também.

Leio horóscopos.
Freqüento centros de candomblé.
Participo de reuniões de médiuns e videntes. Como biscoitinhos da sorte.
Peço a ciganas q leiam minhas mãos, as duas, pra que não restem dúvidas.

Sento sempre q posso
No centro da cidade na hora do rush
Tentando observar o acaso agindo sobre nossas vidas.
Um encontro inusitado. Uma batida de carro. Um ônibus q se perde.

Daí me permito seguir pessoas e descobrir o que o acaso lhes reservou.

Mania estranha né ?

Poizé... Melhor q roubar chocolate Bis nas Lojas Americanas, igual fazia quando estudava no Bueno.


Acredito que algumas coisas não são à toa. E outras acontecem e servem ou se utilizam, como q sendo antenas do subconsciente, pescando o pensamento coletivo.

Crash da bolsa, presidente americano negro e descendente de muçulmanos, as historinhas da Mônica agora são adolescentes, começo a ficar barrigudo, meu joelho dói, minha banda lança disco, eu lanço livro e a chuva se aproxima no horizonte.

Alguma coisa isso tudo deve ter ...

Tempo maluco esse em que vivemos.
Mas sempre foi assim, é como dizia acho que Dickens “... a mais maravilhosa época do homem, é a em que se vive”.

Meio obvio né Charlie ... mas tudo bem.

É ou seria presunção, adivinhar o futuro. Dizer isso ou aquilo.
Não me cabe ...

Do futuro pouco se sabe.
Sei q fim de semana tem ensaio, futebolzinho na sexta com os brothers, festinha no sábado.

Aliás festança né...

Do futuro pouco sei.
Sobre mim mesmo, ainda ando lendo a bula.
Mas estoy muy curioso sobre o que me guarda, esse maldito futuro.

Pra mim e pra nós

Pra vocês e pros outros

Pra eu e você

Pra ela


Pois bem ... nós vemos então qualquer dia desses

no futuro

.

Coluna No Bolso da Calça



No Cult Blog ( http://www.cultblog.com.br/Robisson.html )a coluna “No bolso da calça...”.

Além de meus poemas, música e cultura pop. Tudo regado a caipirinha e queijo com orégano. A primeira porção já ta lá “She’s Leaving Home – o poema” que também está cá embaixo.

O CultBlog é um dos site culturais mais interessantes de Uberlândia, através dele você fica por dentro de muita coisa que acontece por aqui.

No mais, a Juanna Barbêra contrabandeou duas faixas do seu disco “Deserto Sonora” e tascou no myspace da banda

São “Van Jorge Grogh” e “Missa Branca”

E o Hotel Sete continua aqui até q o derrubem pra construir um estacionamento no centro da cidade.
.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

She’s Leaving Home – o poema





Ela foi-se embora
Saiu de casa sem se despedir e pegou suas roupas e coisas
De carona com a cigarra
Sacrifício supremo de donzela
Foi-se a vencer seu diário dragão
Na noite da derradeira desculpa

E não muito longe dali
Nas arquibancadas de mármore a plebe vibra
Brindam nas tribunas elegantes arquiduques e suas concubinas
A orgia que insurgente faz-se em vir
Lá fora, além das muralhas, ouve-se o estrondo poderoso da multidão em êxtase e regozijo

E entram os leões no estádio
Em silêncio
Suas patas, agora doloridas pisam a terra fofa, levantando poeira
Cintilantes e sombrias as feras observam os olhares
Nenhum rugido
Apenas ódio e fome

Em seguida adentram por um oposto portão, as ninfas
carne nua
alimento escondido sob a seda

Esperávamos agora vê-las devorar seus brutos chacais

E fez-se a festa

O duelo travado é inimaginável
Findado o embate, com seus ventres e úteros sangrando
Arrastam-se, os demônios fêmeas

Ao redor da arena o vento dedilha os estandartes das bandeiras dos reinos envolvidos
Seus reis e rainhas de olhos brilhantes se entreolham duvidando do que vêem

Num estrondo os portões são arrombados e a multidão invade o picadeiro

Numa onda efervescente a massa humana engole as ninfas

O mau cheiro é tremendo, carne putrefata e fezes no ar
D’alguma maneira um incêndio se inicia na ala esquerda dos camarotes
Correria e pessoas sendo pisoteadas
Salve-se quem puder Deus está morto

A César o que é de César
Alguém crava um punhal nas costas de Petrônio
Roma pega fogo
E eu acendo meu cigarro nas cinzas desta noite de neblina e continuo a caminhar me acreditando são e salvo

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Carta de despedida a meu amigo Sexta-Feira

eu à deriva
fazendo barquinhos de papel nas mãos
solto-os na enxurrada ? ou não

repasso passo a passo minha escapada da ilha em que me encontro
tem de ser lua nova, maré baixa
e que os chacais não me vejam ou sintam meu cheiro
é ...

ando perdidão da silva
moço, como chama essa rua de minha vida ?
nessa esquina lembro que bebi um dia com amigos outros com amantes
dess’outra me vêm à mente noite que larguei amiga despúes de festa
enfim soltar seu corpo finalmente no ar, mas não pular de prédio
corpo solto na horizontal
deixar tuas pernas te levarem pra onde quiser
pra isso, precisa de disposição e paciência
há muitos lugares aonde ir
e
levar os devidos mantimentos
e
nunca deixar o mais belo sorriso no rosto em casa

pois coisa tão preciosa não há
portanto entregá-lo a qualquer

... é desatenção

tesouro escondido
gengivas, salivas e próteses dentárias
vencendo guerras
meu precisar vem de pressentir
vem de supor
de imaginar
decifrar e devorar
não do pressentir objeto
real tátil
supor nas entrelinhas
invadir imaginários
existir inconsciente

no meu barco naufragado meu avião envia sinais de mayday

queria hoje ser outro
ser Jorge, Marcos, Eliseu
ser você
chega de tanto ser eu

cansei das corcovas nas minhas costas
e do gosto salgado do mar dessa minha ilha

abracos amigos

beijinho meu bem

lá me vou para o continente


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Bob Dylan




quem vai dizer?

um ídolo, uma crença, religião pop, inconsciente coletivo


rolando na grama

contando
descortinando

“segredos que todos já sabem

ou se não sabem desconfiam”

dono de alto nível de comunicação


antene-se

ou caia fora

(suspiro)

é ...
eu aqui agora declaro confissão

coisa pra ser delicada
escrita toda em letra minúscula

pequena rezinha
eu assim rezando baixinho na página ao santo de óculos escuros
ajoelhado em frente ao computador
meu pequeno oratório
peço:

“diz pra mim
qualé mermão?”

é pra ler baixinho
perceber as letras pequeninas em respeito

normal times new roman 12 75% Word 2007

falar pouco e sorrir

celebração



depois fumar um cigarro
exausto



e depois ligar todas as caixas de som do quarteirão

criando a partir de agora
o momento Bob Dylan em todos os lares do mundo

escolho o dia 18 de agosto
porque foi sis dias
ta fácil lembrar

2: 23 da tarde
sob o sol de terça feira

ninguém é obrigado mas o convite tá feito
esse tipo de coisa não é oficial
não passa pelas câmaras municipais ou comissões intersetoriais
não é discutido em seminários nos cursos de humanas
não é lei
não é facultativo
não dá dois dias de folga no serviço
não sorteia carro nem é na sessão de descarrego

existe dentro de nós

dentro de todo o universo que cerca a criação artística
e por mais desregrada
que a obra seja

ainda é a coerência
mesmo em meio ao aparente caos
que serve de mola motriz

a coerência é o costume
maior entrega do artista ao mundo

o artista mais violento e ultrajante
aos olhos sociais

tem um milhão de motivos a mais do que qualquer lacaio

pra estar vivo

não que eu seja algum fascista às avessas,
contra o que quer que seja
contra os lacaios ou qualquer outro grupo social
da elite ou do desbunde

contra nada nem ninguém
quase sempre a favor
por isso não me diga que

não

pois há

sim,

motivos pra estar

vivo

porque afinal

eu
não
estava lá

...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sine qua non

Pequeno demônio na cabeceira de minha cama
me avisa pra ir com calma

Não ser afobado e não trocar os pés pelas mãos

Ir de encontro ao seu céu
Já não há mais tempo pra dizer adeus

Ou mesmo olá

Toda a sabedoria popular avisa que dois corpos
não ocupam o mesmo espaço

Cabe saber portanto, e então,
que não se ama duas pessoas ao mesmo tempo

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Éramos negrões fudidos e oprimidos do Sul dos Estados Unidos em 1920




Gravar um disco mais que escrever um livro, é único e fugaz
O livro tá na cuca, na imaginação
As palavras grafadas pra sempre no papel

E ninguém a não ser você as lê
interpreta
imagina
decifra e cria
tudo no silêncio, no livro o silêncio é a única coisa que existiu

sabe como é

Agora a música tá na fala, na boca, na voz
Tá viva do teu lado te roçando os calcanhares
Gravou uma vez, é aquilo

E aí já era

19 e 20 de julho de 2008

dias de
nossas vidas
daqui a eternidade
dos mais importantes

vou guardar a camiseta amarela toda furada que usei
como troféu
guardá-la como torcedor apaixonado que pega em meio à multidão, na derrota por goleada pro rival, a luva do goleiro peruzeiro
e que pensa caminhando para casa, fazendo figa e apertando o amuleto

_ Próxima rodada vamos ganhar !!!

No estúdio, umas horas a música sangrava um pouquinho

Ia lá e ...
água borricada mertiolate assoprava e continuava

apagava as luzes na cabeça e via toda a minha vida

o que fiz e o que quero fazer

madrugada, bar, cigarro, samba, cervejas, beijo, drogas, amigos, encontros despedidas, rodoviária, ônibus, táxi, prostitutas, hotel, estúdio, banho, cama, sono

sonho nº 1
o ar tocava um sax numa boite em Massachusetis (falado pelo Mussum, que por sinal também estava lá)

cheiro de conhaque no bar, muito
depois da última apreensão, bourboun e vinho eram difíceis de encontrar

nós éramos a banda do lugar
e tocávamos só pra ganhar uns goles no butiquim
éramos negrões fudidos e oprimidos do Sul dos Estados Unidos em 1920
zero estrelas do rocknroll
sabíamos que íamos e poderíamos morrer a qualquer momento, tanto nós quanto nossos velhos pais negros de cabelos brancos e nossas filhas e filhos negros, crianças ou adolescentes
e qualquer um de nossos amigos negros como nós
afinal, éramos negrões fudidos e oprimidos do Sul dos Estados Unidos em 1920

tocávamos e as almas escorriam pelo salão

pessoas sentiam tão fortemente aquela música que uns tinham muita vontade de se masturbar

eu tinha cicatrizes no rosto uma voz tonitruante e roufenha
tocava banjo
B. media dois metros, tinha costeletas e ainda se chamava B.
Leôncio era Jonhson e tocava baixolão com mãos enormes

Nossa banda era Susie & The Heart’s Mopho

Aline era Susie, uma crioula de bunda enorme, e nós a acompanhávamos ocasionalmente em seus delírios de soul
Amávamos o jazz e o blues, éramos todos filhos de lavradores e havíamos freqüentado as igrejas gospels em nossas cidades

Uma lenda dizia que Jerry Lee espancava seu piano sob influencia de nosso guitarrista e pianista Antonys
E ainda havia Kidopoulos nas vassourinhas, preto como o petróleo e amante das atrizes de vaudeville

Éramos um bando de desgraçados impetuosos

Depois de dois intervalos e várias improvisações, em meio a um gole de Vermouth, ouvi meu verdadeiro nome sendo dito e acordei

Susie já de banho tomado me despertava
Era hora de levantar pegar um táxi e ir pro estúdio no Setor Leste da capital do Estado de Goiás

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29 de julho de 2008

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Amor à primeira vista

Amor à primeira vista
Dizem os estudiosos, não existe
Demora-se ao menos 36 horas para que o cérebro dê falta do beijo e os olhos sintam o toque do rosto do outro

Porém, em todos os grandes magazines do centro da cidade, vê-se os anúncios

Amor à vista, com desconto
À prazo, primeira parcela, somente no segundo semestre
Aceita-se cartões de crédito

Uns ainda acrescentam:

Sem consulta ao SPC ou Serasa
ou
Nas compras de amor, acima de 50 reais, ganha-se um coração felpudo

Porém, não se aceitam devoluções, sob nenhuma circunstância

Apenas em ti teu amor cabe
uma noite com teu amor e ele não veste mais ninguém
Arranha a pele dos que o experimentam
Suja a bainha da blusa das outras meninas
Aperta e não serve na cinturinha da moça de corpete

Como já dizia um baiano, “ aquele preto que tu gosta ... “

Seu amor é só seu ...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Kamikaze Kiwi

...
Leiam essa minina Luana

http://kamikazekiwi.blogspot.com/

é das melhores coisas que li nos últimos tempos

fui
...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Equinócio de Primavera


Certo dia acordei verão,
havia flores nos
cabelos.

Respirava por folhas verdes
e uma abelha me beijava a
nuca.

Tentei me virar e meu próprio espinho
cravou em meu
umbigo.

Do meu peito nasceram lírios
e com
olhos
botões de rosa
dos meus dois
dedões do pé
ví crescerem girassóis
dionísios.

Enfim, me vi jardim então decidi dormir, pra sonhar com a chuva e com a mão da moça,

que poderá me acordar...
colhendo flores em mim...colhendo flores em mim ...colhendo flores em mim...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Campeão Nacional de Arremesso de Bituca de Cigarro




tenho um esporte particular
eu deitado em minha cama, arremessando bitucas de cigarro pela janela
sem que elas toquem as grades
e caiam pra dentro do quarto

tenho me dado bem e me tornado de um amador a um possível profissional

já me vejo no sportv

_ E lá vai ele no terceiro maço de Yes !!! Numa média de 7 por 1 acertos ... é fantástico !!!

_ O adversário pede arrego por não mais agüentar fumar Lexus ou Yank. Nosso campeão exultante é cumprimentado pelo Presidente da Federação Brasileira de Arremesso de Bituca, ele que assistiu a toda competição de um canto, em sua cadeira de rodas.

_ Era possível vê-lo vibrar entre uma e outra inalação de oxigênio

_ O câncer, disseram os médicos aos nossos repórteres, está regredindo, então o liberamos para essa grande celebração.


Na coxia


_ Parabéns você é um orgulho para nós !
_ Obrigado, espero não acabar como o senhor.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Love and Hate


Acordo moribundo cercado de cacos de vidro
Nu, meu corpo pelado cambaleante se arrisca levantando subitamente entre as navalhas
Precisava de uma bebida, na geladeira encontro vinho vagabundo
Numa golada refaço a noite anterior limpando da testa o mormaço e a sujeira do chão
Observando minhas mãos imundas e minhas unhas roídas
Sugiro a mim mesmo um banho
mas não agora, não agora

Volto ao quarto e abro as cortinas pra que o dia penetre na minha vida
mas há pouco sol hoje nessa cidade
e só um vento frio vem e me abraça

“Ame-me ou deixe-me em paz”, de quem é essa música que não me sai da cabeça ... ?

Disso lembro entre um gole e outro, acendendo um cigarro que por um tempo
amei te odiar ou odiei te amar

Prazer supremo, mal secreto

Pensar que gostar vem sendo a pior coisa que poderia te acontecer, obviamente não é a melhor coisa a fazer ao acordar, ainda por cima com a cabeça doendo e o estômago vazio

Humpfffff

Outro gole

Vai que eu esqueço

domingo, 18 de maio de 2008

Ogum e Iemanjá




.




não sou filho de Ogum, mas sim de Iemanjá
.
.

.
.
.
.
.

.
.
.
.
logo
eu
que
não
sei
nadar




...

São demais os perigos dessa vida



Sis dias um cara sacou uma faca pra mim
vindo na minha direção e eu escapulindo

Tinha, eu, mandado, ele, tomar no cu
É meio maluco ver alguém com uma faca na mão na eminência de te acertar
Ou não
“será que isso realmente vai acontecer...onde essa faca vai pegar... será que dói?”
Ameaças são ameaças até que se tornem o contrário

Objetivo do oponente: me tirar do passeio em frente à sua casa
Eu fui pro meio da rua

Deu meia volta e retornou de onde tinha saído, quando ouviu de mim

- Fica machão com faca na mão né...

Largou a faca e nos atracamos atravessando a rua até o passeio do outro lado, abraçados entre socos e pontapés
Balé violento e não coreografado, puro improviso

por incrível que pareça, eu que nunca briguei tinha imobilizado o cara, e podia se quisesse ter dado uma senhora cabeçada no seu nariz

chegou a turma do deixa disso

as pessoas no bar da esquina se levantaram
pra ver melhor sabe, eram quase meia noite e a rua era escura
mais um pouco e as apostas começariam

“três cervejas no cabeludo” ... “eu vou no baixinho atarracado”


um camburão da polícia vira a esquina, os policiais olham pra todos e o carro avança e se distancia
alguém diz “to flagrado” outro alguém diz “vaza daqui meu” outro alguém espertinho diz “me dá a parada que eu guardo”

me sento na esquina e penso, abrindo o zíper da blusa de frio
“preciso parar de freqüentar lugares onde as pessoas andem armadas “

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Convênio de Saúde


com uma navalha pronta pra cortar sua garganta
não me faltam motivos pra lhe matar logo mais
mas
assassinatos levam tempo e pioram a saúde
além do
mais
meu convênio green plus
não me garantiria sucesso atrás das grades



quarta-feira, 7 de maio de 2008

o herói


refaço o mesmo caminho do herói que não teve tempo de correr
morreu porque não amarrou o sapato
pulou da ponte porque achou que era raso
bebeu cicuta por indisciplina
roleta russa em orgia com prostitutas
mão boba na fila do cinema

"distraídos venceremos"

"vai meu filho ta fazendo o que aí parado na esquina
quem fica parado é poste e quem faz ponto é puta"!

mais um passo
e ainda pulo no teu pescoço

ps. um beijo

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O Fim



o fim não é quando algo acaba

mas quando outra se inicia

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Precipício




quem adia a saída do hospital psiquiátrico
quem suspeita da virgem com mãos em riste na altura do altar
quem santifica ou inveja a porca roliça rolando na lama
quem viaja sem bilhete de volta ou se ressente com a ressaca moral
quem devora livros sem deixar de olhar pros lados ao cruzar uma esquina
Eu não me meto com gente séria
ou muito apegada ao certo
esse povo não faz bem pro meu céu
não me vejo vendo estrelas ao seu lado na noite do reveillon
nem jogando contas na maré de Iansã

em eco me faço

eu eu eu eu eu eu
eu sou eu sou eu sou eu sou
sou sou sou sou
eu
você você você
não passa daqui
não vira aqui
não sabe daqui
não
não
não

---------------
este "Precipício" estava no computador num arquivo junto com outros dois de meus poemas e outros três do Eudoro Augusto

li e gostei, mas não sei se fui eu que o escrevi, não me lembro

ou é pérola dos meus dias ou é milagre da coincidência
meu esquecimento talvez um dia me presenteie com uma surpresa
a exata descoberta
se alguém encontrar num ponto de ônibus ou em qualquer lugar o verdadeiro autor
informe-o e informe-me ... é isso.

re turn



meu copo de vodka
não me deixa trazer
meu corpo de volta

o papel



o papel tudo aceita
mas nota falsa e desaforo, a dona do bar não aceita

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Êxtase




O único objetivo da minha poesia
é
fazer com que você
ao acabar de lê-la
tenha
ou
ao menos esboce
um riso torto no canto da boca
e
os olhinhos estejam semicerrados em sorriso.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Poema de ruas e avenidas




Evito poemas que comecem com “Ó Virgem Imaculada ...”
Prefiro “Psiu” ou “Hey gata”

Que digam sobre a lua, o orvalho e o vento
Sobre rosas e chá, nem pensar
Prefiro cocaína, esterco e goma de mascar

Que chorem dores incomensuráveis ou que queiram salvar o mundo
Prefiro poemas que dispensem apresentações

Evito poemas que digam sobre o proprio umbigo ou programas de televisão
Prefiro a vida dos outros, dos bêbados das putas dos loucos
Dos que não se dão bem

Da tristeza e da massa amorfa que é o sonho
A vidinha feliz da classe média não me interessa até porque já sei como é

Evito ler poemas ao atravessar a rua, eles podem te matar

sexta-feira, 4 de abril de 2008

As Crianças de Hoje



Depois que os Três Porquinhos foram embora
Lobo Mau arrumou um emprego em seriados infantis

Dizem que no dia das crianças
Lobo Mau acorda se sentindo um pouco mais feliz

Chaupezinho, se tornou uma menina tão sapeca
facilita, e se contorce em sua dança de puta e meretriz

Fez lipoaspiração em seu culote
hoje faz programa numa boate no centro de Paris



imagem de Fernando Diass no http://fernandodiass.blogspot.com/

segunda-feira, 31 de março de 2008

a voz e as palavras


Se a voz que diz
FIRME
treme

treme é por que talvez bata um vento

sinta um frio

mesmo que diga a palavra
CALOR



A voz e as palavras, andam juntas, mas desconfio que se apedrejem em quartos escuros.

As palavras teimam em vir de supetão, de rompante, trombando, se amontoando na porta da voz, e querem o que querem na hora que querem e não se importam se a voz, solitária, rouca pode atendê-las... palavras espalhafatosas, rudes, malcriadas, birrentas.
As mais educadas vêm atrás esperando sua vez que pular da garganta e estalar a língua.
A voz muitas vezes não consegue corresponder aos caprichos e desejos das palavras, não consegue, tamanho o seu trabalho, de ocupar o exato espaço no tempo e no mundo tal qual seria o significado e o tom que aquela palavra e frase mereciam...
A voz é erudita, estudiosa, dedicada, atenciosa aos detalhes, as palavras são galhofeiras, andam em bandos, e podem muito bem, ao mesmo tempo serem dóceis e logo em seguida cruéis ... e além de tudo as palavras têm 1 zilhão de vozes pra conhecer, não se amarram assim tão fácil, querem várias bocas, gostam de beijos longos ...
Porém existem aquelas vozes de que as palavras se afeiçoam mais e sentem flanar macia sua dicção ao saírem das cordas vocais...

A voz é triste, única, mortal
as palavras são dionisíacas, mas prisioneiras da voz
existirão, as palavras, pra sempre, mesmo que não exista voz ...



A voz trêmula que afirma, afirma como palavras e nega como voz.
F. Pessoa

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Poema escrito sob a inspiração da leitura do livro “Ao encontro da PALAVRA CANTADA – poesia, música e voz” – Editora 7 letras.
Tem na Biblioteca da UFU, depois fui escutar “O Camelo e o Dromedário” e “Palavras”, ambas do disco Ô Blésq Blom dos Titãs.

31 de março de 2008




Durou o que durou ...
Durou muito? Pouco ? Suficiente ? Bobagem... nenhum amor é suficiente

Alguém sempre ama mais, e mesmo quem ama mais, não ama o suficiente pra si mesmo porque o outro não o ama como ele ama o outro ...
Gostar de alguém nada tem a ver com carência, como já disseram por aí, mas com as melhores gargalhadas da tua vida, com pizza requentada de madrugada, com perder ônibus em rodoviária, com surpresa na saída da faculdade ou do trabalho, com escolher o pior filme na locadora e nem esquentar, viajar, fazer planos que não dão certo, tomar chuva

Acreditava na teoria de que nenhum romance dura, se os amantes não tomarem uma chuva torrencial num dia qualquer. É a perfeita parábola para o acaso das suas vidas. Se os dois se derem bem e conseguirem se virar na enxurada, têm futuro ...

Futuro ...

Mas aí alguém faz alguma merda, e pode ser quem ama mais ou quem ama menos, tanto faz pouco importa,



e
tudo se fode

Ana que amava Lucas que amava Sandra que amava Jorge que amava Lucia que teve o coração partido por um desastre momentâneo ...

Acordar cada dia sabendo do soco no estômago, ao amanhecer já pôr o bife na cara
A vida é boa, mas é também decepção, incongruência, desejo frustrado
ta bom que você pode se lembrar das férias na fazenda quando tinha 12 anos
mas ...

Pode aguardar amigo, virando a esquina, lá está ela, pegando na sua mão em chave de braço

_”Me dá a sua carteira e esse sorrisinho no canto da boca. Vamo,vamo, tá demorando porque rapaz? Eu sou sua vida e você acha que eu to de brincadeira...?”

Eu estou com febre, começo de febre
rosto corado de febre, fico até bonito doente e com olheiras
fim de semana agitado, 6 e 43 da manhã de segunda feira, o mundo acorda e eu vou dormir
Escutou ? eu vou dormir ...
Na vitrolinha, Patti Smith enfia uma faca no meu coração e gira, gira uma duas três vezes e sai gritando

Eu passo ...
Se não é pra amar, não será

segunda-feira, 17 de março de 2008

Chuva




Chove lá fora.
Mas chove muito, eu desejo um cigarro e dez mil palavras caindo sobre a cidade, pesadas, devastadoras, um noturno banho místico deflagrando a verdadeira catástrofe.

_ Meu Deus! As onomatopéias estão derrubando pontes em toda a grande São Paulo! – diz a garota do tempo - Frases inteiras arruinaram imensas plantações de café no interior do estado.

No coração pingam apenas pingos, chuvinha fina, e respingam no mofo da parede, formando certas letras. Eu a decifrar já desconfio, dessa gramáticad’agua, que até a chuva já sabe do que vai lentamente acontecer, e como na descoberta de qual desejada e premiada figurinha está nos chicletes plocmonter, bublegum ou babalu será seu nome na parede, nesse misterioso mofo úmido, que irá aparecer.

quarta-feira, 5 de março de 2008

errus umanos




recomendo recometer os erros, e perder os errários em horário qualquer, inclusive imaginando serem erros os espaços em branco entre as palavras amor e dor, já que juntas, essa sopinha de palavras, seriam a consumação da condição "umana"
como num filme preto e branco exibido numa sala da adevitrin (associação dos deficientes visuais do triangulo) ...

reforçar toda nossa fragilidade é mais que fundamental
é sonho
saber que todos os ossos se quebram e que em seu colo também se aninha qualquer ombro
quebrar a cara e sorrir sem dentes na antesala do dentista
levar aquele fora no primeiro dia de aula
iluminar sua vida com lampião à gás e isqueiro, dentro da barraca, você e quem você quer, debaixo de chuva torrencial

é demais se perder por aí ...

me mandem postais

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Macaco Bong, Antonio Sodre e Cuyaba sob os pes




Anteontem vi o Macaco Bong ensaiar
li Antônio Sodré no beat frito da guitarra, sentado num canto dum estúdio abafado


_ Que se dane todas as festas do mundo e comemorações ... Natal, Páscoa, Dia das Crianças, Feriado Santo

minha festa predileta é a transcendência, a iluminação, se arriscar de madrugada em troca de diversão barata e saber que não vai levar um tiro, mesmo que não saiba

ou sendo mais mundano dormir rindo não se sabe do que
contente por existir dentro do espaço que te cabe exatamente embaixo da pele

Num certo momento, ergui P.A's imensas do meu coração

inimagináveis

e deixei-as tocar

de repente minha vida saiu, bem em frente e de dentro dos meu olhos, pra dar um role...

Depois d'um tempo ela voltou e disse.

_ E aí bicho, a vida é uma só, vai ficar aí me olhando ?

No que respondi.

_ Fica fria mulher, sou todo seu ...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

1 200 km ou 51 milhas



Pegando carona risco um
fósforo
A estrada em chamas escondendo
tesouros
Bolhas de sangue nos pés e um sorriso
nos olhos
O dedo erguido e nossas almas
em brasa
Não sou você nem sou mais
eu
sol
cuyabano queima os ossos

o
vento
cortando os pulsos
e
o

suicídio
escorrendo
Uberlândia
Cuyabá
Itumbiara
Cuyabá
Rio Verde
Cuyabá
Jataí
Cuyabá
Rondonópolis
Cuyabá
Cuyabá

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Num Covil dos Ratos



minha poesia não canta nada

- como haveria de cantar? –

berra todo nosso sufoco

como um doido na camisa de força

vem do útero do ânus estuprado

do peito doente

da cirrose do fígado


minha poesia é o pânico

a quarta dimensão terrível

da vida consumada no porto da barra pesada

das penitenciárias dos hospícios

do pervintin da maconha e da cachaça

do povo na rua

- do povo da minha laia –

minha poesia é o hino

dos libertinos

que conspiram na noite dos generais ...*

nesse labirinto não vejo saída

"seus poemas não lhe darão fama nem luxúria, quem sabe talvez uma cela escura na capital do país ...”

--------------------------

* Poema de Adauto página 251 do livro “26 poetas hoje”, música Maracatu dos Ratos da Juanna Barbêra

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

CANNIBAIS SATIVA



Já comi muita gente, mas maconha, hoje, não fumo com tanta freqüência
Comer gente é bom mas dá muito trabalho
Um dos maiores prazeres é destrinchar a carne dos ossinhos menores e fazer pequenos escapulários das pálpebras costuradas
Sentir a tessitura da pele ao ser arrancada e dependurar no varal sob o sol, junto com a sunga e a calça jeans puída



Gente hoje nem é mais um prato da moda, nos restaurantes preferem servir hambúrgueres de gergelim e sorvetes de passas ao rum
Mas ainda tenho meu livro de receitas guardado na estante
“Mestre Cuca Oswald: Como devorar pessoas abaixo do Equador”
A primeira receita envolvia Sardinha, macaxeira e tapioca


Nunca vou me esquecer do gosto doce da menina da 8ª série que, inocente, aceitou meu convite pra fazer o trabalho de álgebra em minha casa, numa sexta à tarde, sendo o mesmo trabalho pra duas semanas à frente... e em grupo


Suas sardas deram um colorido especial ao chá que preparei aos familiares durantes os cafés daquela semana


Ela me disse sobre as particularidades dos signos, de como a lua influi nas pessoas e quais os melhores dias do mês pra se cortar o cabelo...
Eu lhe contei sobre meu tio que sempre jogava no bicho, e lhe expliquei das combinações e de como funcionava as quadras, quinas e os palpites...
Ela, sorridente e feliz, me disse sobre o que havia sonhado na noite anterior

Daí não resisti e lhe dei a primeira mordida...

Abaixo a Ditadura




Abaixo a Ditadura


Logo à frente, governos ditos democráticos

Ao lado, uma ou outra monarquia

Acima, guerras na África no Azerbaidjão na Colômbia
em Moçambique na Ilha do Governador


E embaixo
NÓS

Precisamos, enfim, desatar NÓS

Amar é ...

achar lindo a marquinha marron de cocô, na calcinha da mulher amada.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Relato sobre o sono morno dos assassinos


Agraciado com coroas de espinhos e restos mortais das mãos do Rei, ao retornar de minhas peregrinações por terras infindáveis, me vi solitário em meio à multidão e a cidade.


Ao relembrar das casas incineradas e do choro das mulheres e mães por seus filhos mortos, me senti somente desgraçado. Sai do palácio após a cerimônia e mesmo com todas as congratulações pelas mortes e mutilações, os plebeus não reconheciam seu maior assassino e herói.


Caminhei por entre as ruas em festa, sentindo o corpo exausto e cansado, pensando no sono morno dos assassinos que me aguardaria durantes quantas noites daqui em diante, dos calafrios e dos pesadelos, dos delírios e das lembranças, e desejava que naquele momento ninguém dirigisse a palavra a mim.


Bebi vinho e me ajeitei num canto, quieto, da praça central. Imaginei se cada uma daquelas pessoas que festejavam ali pudesse ver o campo de batalha atulhado de corpos, o cheiro de carne queimada e sangue, o grito animalesco dos convalescentes pedindo ajuda.


Mas essa imagem seria pueril, e de nada valeria na minha intenção de demovê-los daquela alegria insana, pois alguns apreciariam, inocentes, a idéia gloriosa da carnificina. E eu não conseguiria fazê-los sentir o que sinto, o mais insano e desesperador dos sentimentos, o do guerreiro que se pergunta, após a vitória, se vale à pena matar, olhando a seus pés os amigos mortos.


De uma forma ou de outra se morre d’alguma maneira numa guerra...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Turista francesa fotografada seminua com namorado árabe na baixada fluminense *

"Ligo pro motorista ? Não, melhor um táxi. Sim, um táxi.”

_ Vamos de táxi Efrain ?.

_ Claro Isabelle.

_ Táxi ... Táxi ...

“Um táxi, sujo, dum motorista que tem uma pinta, ou melhor um verruga na cara, e a sua cara também é torta. Ele é bem feio. Com seu chapeuzinho enfiado na cabeça. Merda, que tenho eu a ver com o maldito do taxista. Na pior das hipóteses ele vive de aluguel numa casinha dos fundos com a mulher e os três filhos, e eu sou livre e desimpedida. Rica. Ao menos, por enquanto. Sou é esnobe e drogada. Coitado do taxista, nem o conheço e falando assim do miserável. Queria estar nua. Pelada. Parece que bate um vento bom lá de fora."

_ Pare o táxi.

_ Mas aqui na ponte senhora?

_ Sim.

_ Tudo bem.

“Ah , que vento delicioso."

_ Moça o que está fazendo? Você está louca.

Nos carros que passam, os motoristas buzinam em regozijo.

Efrain, condescendente, acende um cigarro Gitanes egípcio e oferece outro ao taxista.

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* verso da música dos Titãs, “Disneylândia” do disco Titanomaquia de 1993.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Poesia para fundo de gaveta

Este poema é para ir para o fundo da gaveta
É para nunca ser lido e se lido esquecido
É para nada significar ao leitor mais atento
É para não valer um centavo e não pagar as contas do poeta
                                                                                    em questão
Este poema é como qualquer outro, para ser incômodo,
                                                      ser reflexo, ser espelho
                                                                            e sumir
                                   ploc
                                   com bolha de sabão …
Este poema não diz respeito a nada, a não ser a ele mesmo
Como vê, não há belas palavras, imagens ou aliterações
Este poema, como qualquer outro
é para ser esquecido
como moedinha de centavos,
como tampa de caneta bic
na gaveta da cômoda
sob a televisão ligada
nos programas de auditório nas casas das famílias do século XXI
Afinal
para que poesia ?
_ Amor, venha ver aquele cantor que você gosta na TV …

A Cidade Velha



I
Olhou pra trás e quase tropeçou, não andava, nem corria, caminhava rápido na calçada, desviando das pessoas.
Dia movimentado. Era segunda, 10 horas da manhã. A Cidade Velha apinhada de gente comprando roupas baratas na galeria 9 de Julho. Era dia de liquidação em todas as lojas. A calçada em frente às velhas galerias se transformava num formigueiro humano, pessoas entrando e saindo das lojas sem parar, conversando, gritando, pechinchando.
Não sei porque a galeria se chamava 9 de Julho, pois pelo que eu sei não é nenhum feriado nacional, mas na folhinha todos os dias são de alguma coisa ou alguém, como o dia da aeromoça ou do ortodontista ou sei lá do que.
As ruas do centro antigo eram estreitas e algumas ainda eram de pedras taquinho, não haviam sido asfaltadas. Mesmo sob o sol, as ruas não se iluminavam por completo. Essa região ficava de tal maneira localizada sob um morro que quando ainda eram 4 horas da tarde, o sol já não conseguia atingir a fachada dos sobrados e casas, e toda essa penumbra dava a impressão de que ali a noite chegava mais cedo.
Almas penadas precisam de escuridão pra se divertir. Os instintos humanos vis e sorrateiros se afloravam descaradamente. Havia toda ordem de criaturas perdidas no centro velho, mães solteiras que ganhavam a vida como domésticas, e que se arrumavam para sair aos sábados à noite, velhos decadentes e doentes, abandonados pelas famílias, que permaneciam nos pardieiros baratos por não terem pra onde ir, mas se sentiam quase entidades naquelas vielas, respeitados por marginais e pela lei. Desempregados, batedores de carteira, ladrões, drogados, putas e traficantes. Tudo ali era rasteiro. Não havia ali uma grande prostituta daquelas que faz do seu prazer e sua luxúria sua profissão, daquelas que deslumbram os homens e os hipnotizam. Não, ali as prostitutas eram mesquinhas, amarguradas, descontentes e violentas. Dentre os assaltantes não havia um que não tivesse puxado cana. Uns amigos meus diriam, "ladrão burro". Viviam de pequenos pulos, não se arriscava em nada tão grande que pudesse levá-los novamente pra cadeia, somente pequenos furtos para manter a sobrevivência, mas que também não lhes proporcionavam saída daquele buraco. Conheço várias outras áreas de meretrício e do submundo, tanto aqui como em outras cidades, e não é em todos os lugares que floresce uma fauna tão ruim, talvez sejam as pessoas ou talvez, o que me convence mais, seja o lugar.
Brigas, polícia, bêbados, putas, canivetes, carteado. Você pode ser um fracassado ou um idiota, um é muito próximo do outro. Idiotas e fracassados.
Era assim a cidade antiga. Mas era assim durante a noite. Durante o dia era o formigueiro infestado de gente querendo comprar a blusinha mais barata, ou a calça de tergal que nunca achou nos magazines das butiques.
II
Virando uma das esquinas de centro velho, ele seguia a passos trôpegos. Ninguém prestava muita atenção nele. E se realmente prestassem veriam que ele estava alterado, mas muita gente andava alterada por aquelas ruas, mesmo de dia. Além do que, ninguém presta muita atenção em ninguém mesmo, talvez hoje, talvez desde sempre.
Suava.
Ao andar com a mochila dependurada num dos ombros, coçava e arranhava o pescoço, que ardia devido ao contato com a gola da camisa vagabunda. Reflexo do calor e do azar de tê-la posto num dia tão conturbado.
Nervosismo.
Pensou que não daria tempo, olhou no relógio, 10:47. Discutir com o tempo ? Que tolice. O certo é vencê-lo. E correr. Pensou em pegar um moto táxi, mas gastar o pouco dinheiro que tem pra andar apenas algumas quadras. Não. O lance era correr.
Chegou à porta do prédio. 11:17. Estava em tempo. Em cima da porta, uma placa, "Alugam-se quartos". A sua direita, um pequeno grupo de homens conversava, sem notar toda a sua ansiedade. Ele não distingue os diálogos, mas ouve "gol", "a final tá no papo", "fulano está contundido". Invejou aqueles homens que pareciam tão contentes e distraídos jogando conversa fora sobre futebol, e sentiu um pouco de pena de si mesmo.
Ele precisava de mais.
Ao lado uma pequena loja de conserto de chaves. A sua frente a escada que dava para os dois andares do sobrado. Respirou e entrou. Agora não tinha volta. Alias, já não havia volta há muito tempo.
Segundo andar. Quarto 218. O número, o corredor as paredes descascadas, tudo parecia muito inofensivo. Bateu duas vezes.
_ Quem é ?
_ Sou eu. Fred.
A porta abriu. Bem a sua frente um cara lhe apontando uma arma, um pouco à direita outros dois de automáticas na mão.
_ Entra. - disse uma voz vinda do lado esquerdo do apartamento.
Entrou calado e nervoso.
_ E aí. Tudo bem?
_ Tudo.
_ Foi tranqüilo ?
_ Foi.
_ Parece nervoso rapaz. Já não é tua primeira vez. Tem que ficar calmo. Isso é fundamental.
_Eu sei.
_ Põe a mala em cima da mesa.
_ É uma mochila.
_ Então põe a porra da mochila em cima da mesa.
Pôs.
_Vamos ver.
Lucas, o traficante, abriu a mochila e retirou dois embrulhos retangulares. Pegou uma faca e rasgou a fita adesiva que lacrava um deles. Experimentou dando uma cheirada e passando nos dentes e na gengiva. Se arrepiou e uivou.
_ Dá a grana pro boy.
Um dos caras com a automática bate no ombro de Fred com um envelope cheio de dinheiro. R$ 1.000,00 reais. Ele pega, abre o envelope e imagina que os mil estão ali, sem mesmo averiguar.
_ Agora rapa daqui. Fez tua parte. Bico calado e fica mais frio da próxima vez. Não gosto desse teu desespero.
Virou as costas sem agradecer nem se despedir e saiu pela porta. Um dos homens com a automática o observou se distanciar do apartamento. Quando dobrou a esquina do corredor começou a descer as escadas correndo. Naquele momento era questão de minutos pra que descobrissem que o outro pacote não tinha cocaína, e sim polvilho misturado. Quando descobrirem, será decretada sua morte e cada marginal da cidade antiga, fará o possível pra entregá-lo em troca de qualquer recompensa que Lucas puder lhe oferecer. E Lucas pode tudo.
III
Lucas morra no bairro do Avarandado, bairro de classe média do outro lado do Rio. Aquele hotel é seu QG na cidade velha. Não há nome no Hotel, as pessoas o chamam apenas de Hotel. Lá não se vende cocaína, nem moram prostitutas, nem se alugam quartos. Lucas quase sempre utiliza o mesmo quarto 218. Assim é, porque ele quer, ele é Lucas, e ninguém diz o contrário. Lucas está vivo porque tirou 7 anos de cana no presídio de São Vicente. A Penitenciária de segurança máxima o conservou vivo, fora de rebeliões, dos ataques dos inimigos e da própria polícia. Foi preso com 23, saiu com 30 e hoje tem 37. Decidiu que não volta pra cadeia, nunca mais. Melhor morrer e levar uns PMs junto. De uns anos pra cá, vive com a certeza de que é um homem morto, que espera apenas a bala certa. Todos os dias quando acorda beija a medalhinha de São Cristóvão. É vascaíno.
Ele matou dois rapazes semana passada, gosta de matar com simplicidade, deu um tiro na cara de um deles e falou pro outro olhar. Depois ordenou que os capangas fuzilassem o restante. Os dois corpos foram postos dentro de pneus de caminhão e ateados fogo.
Os moradores da cidade velha já sabem do que se trata quando vêem a fumaça preta surgindo por detrás do morro. X-9 morto.
IV
Fred correu pra o ponto de ônibus, e entrou no primeiro circular que parou.
Seu celular toca.
Alô
Alô ?
Fred?
Eu porra
Tudo certo?
Tudo
Te espero então
Tá.
Desceu do ônibus no bairro de Trindade, entrou no primeiro bar que viu, pediu uma coca-cola e foi ao banheiro. Recostado na parede suja, esticou duas carreiras em cima da carteira e cheirou duma só vez, um tiro pra cada narina. Bebeu a coca rapidamente, pagou e procurou na rua um orelhão. Ligou prum 0800 de mototaxi. Deu o endereço de onde estava.
_ Dez minutos no máximo, já tá chegando moço.
V
Do outro lado da cidade, Lúcia treme ao misturar o açúcar no café.
_ Mas porque você ainda não havia me dito isso.
_ Não havia me lembrado minha filha. Mas é isso. Papai volta no fim de semana. Sábado. Você não dormiu aqui esse fim de semana né. A mãe da Flávia é atenciosa, mas não gosto que você durma direto na casa dela. Incomoda a família.
_ Nada, pai. Ela não se importa não. Que idéia.
_ Tudo bem. Mas nessa semana não durma lá, durma aqui, e se quiser pode chamar a Flávia pra dormir aqui com você. A arrumadeira vem na quarta como sempre. Ligue pra ela pra confirmar depois.
_ Preciso de dinheiro, pai.
_Deixei na cômoda da sala pra você.
_Beijo minha filha, fica com Deus.
_ Tchau pai. Boa viagem.
Lúcia escuta a porta se fechando e logo em seguida o som do elevador descendo, então se levanta da mesa assoprando o café quente nas mãos. Pega o telefone e disca.
Alô
Alô ?
Fred?
Eu porra
Tudo certo?
Tudo
Te espero então
Tá.
Desliga o telefone. Abre a gaveta da cômoda e conta o dinheiro. Dá duas voltas na sala e passa a mão na buceta sob a camisola transparente. Sorri.