terça-feira, 31 de março de 2009

Pertinência


Toda poesia deve ter pertinência.

Pois dilaceração, essa inquietude, é propriedade dos mal afamados,

dos que não se preocupam em dar o certo nó na gravata

e nem com o acender das luzes

[na saída do cinema ou crematório.


para Walber Schwartz

segunda-feira, 30 de março de 2009

A Seta

Mesmo namorando, e apaixonado por ela... sis dias, numa esquina flertei com outra.

Bati o olho e parei naquela figura esbelta, olhar ao céu, alça de bolsa vermelha trançada entre seios magros, e pensei em como ela deveria ser alto astral, sempre pra cima.

Mas a percebi um pouco desprotegida, um pouco insegura e ao me distanciar, olhando pra traz vi que um jovem já se aproximava e com o ombro a tocá-la, tirava do bolso o que me pareceu ser um maço de cigarros.

Deixei-os pra traz então, eu apontando ao céu minhas mãos, como ela.

Ela.

Que poderia ser ...

PS. Obrigado Boina pelo insight

foto de raylsooon no http://www.flickr.com/photos/raylson/3096884894/

Paula



Paula tinha em mente

que

paulatinamente

teria ela, outrora novamente,

sua rouca voz.


E que não mais temeria

o latir do cãozinho feroz

gritando, com o

pé na latrina rente ao muro;

“_ Socorro !” , aos seus avós.



(foto de A'Schneider http://www.flickr.com/photos/45657218@N00/2437084160/



domingo, 29 de março de 2009

Coração de bolso


Há mais de uma semana caminho pelas ruas da cidade com a mesma justa calça jeans e meus surrados sapatos de couro rasgado. Nos meus calcanhares, bem como em todo o corpo a pele anda grossa e espessa.

Venho não precisando de muito nem me contentado com pouco.

No caminho, encontrei algo que havia perdido, sentindo falta dos anéis, já que foram-se os dedos.

E apenas pra exercitar meus súbitos ímpetos, dias desses troquei em antiquário meu antigo relógio de bolso, presente de velhos parentes, por uma nova relíquia, um lustroso coração de bolso.

A meu ver foi jogo, pois além de marcar as horas, meu coração não atrasa e também bate calado.

(foto de Antônio Machado
http://www.flickr.com/photos/antoniomachado/2726259403/ )

quinta-feira, 26 de março de 2009

Licença poética cassada



Recebi uma carta sis dias, informando que minha licença poética foi cassada.

Foi abatida a tiros numa tardinha de sol pelos estetas da nova ordem, enquanto corria no Parque do Sabiá para manter o corpinho sarado.

Sua carcaça foi levada ao IML do Umuarama.

Devo comparecer o mais breve possível ao local para o reconhecimento do corpo, a fim de evitar que o cadáver seja utilizado pelos estudantes de Medicina em suas aulas de anatomia.

Caso contrário minha poesia será dissecada, servindo desumanamente às causas da humanidade.

Cura para impotência, mau hálito, dor de cotovelo.

Agora sem licença permaneço, mandando sinais de fumaça e mensagens em garrafas, escrevendo até que me encontrem em meu subterrâneo esconderijo e me alvejem com balas de açúcar candy e impropérios, sobre como escrevo mal.



(foto de TravelingMango http://www.flickr.com/photos/qchristopher/2214924797/

Amantes




Os amantes marcaram um duelo para o fim do dia
Ao pôr do sol se entrelaçariam para sempre

Ele trouxe rosas e um revólver
Ela, vinho e seus venenos

Entraram no restaurante de mãos dadas, como dissera o padreco, juntos até que a morte os separe
Sentaram numa mesa de canto, um de frente pro outro, pediram o prato de entrada, peixe, e se entreolharam, os três

Primeiro ela disse como o amava, depois como o traiu
Em seguida ele contou seus íntimos segredos e piores pesadelos e de como o tesão havia acabado

Enfim, silêncio

No carro trocaram de estação de Rádio várias vezes, até encontrarem uma música que não os lembrasse d’algo bom ou ruim

Indiferença e cicatrizes eram as palavras-chave da palavra cruzada de suas vidas
Já haviam se mudado, um pra longe do outro, há muito tempo

Em casa, ele pôs em cima da mesa as rosas n’água e engatilhou o revólver na própria cabeça enquanto ela bebia seu vinho tinto predileto e mexia com a colher de chá o resto do veneno no fundo do copo.

Se amavam demais, afinal.

(foto retirada do site http://www.contracampo.com.br/83/critamantesconstantes.htm

And... ando na corda bamba


Andando na corda bamba
o poeta
desafia a gravidade em peripécias para a multidão

No picadeiro iluminado
palmas

Abre uma garrafa de rum, dedilha suave seu violão

Uma flor lhe é atirada

Com os dedos do pé a pesca no ar, sorve o cheiro suave das pétalas e num brusco movimento a arremessa à boca, mastigando toda a rosa.

Te amo ...



Quando chegou, era muito calado
Tempo depois contou sua história
Passado uns dias já ria de si mesmo
Logo já atravessava a rua sozinho
Amou por muito tempo
Depois odiou a si próprio

Enquanto inventava deuses de plástico
pra amortecer sua queda
fez das cinzas do seu cigarro o vácuo da sua solidão

Disse outrora, ser mais profundo qualquer conversa de butiquim ao seu lado que as vãs filosofias das cadeiras universitárias
preferindo atravessar noites cheias de náusea pra inspirar transtorno e um cadiquim de caos

Quando morreu seu corpo foi cremado, seus ossos amontoados em barris de óleo e hoje sua fronte vistosa não incomoda mais

Descansa num rito mausoléu

Mas nas noitinhas de chuva, nas noitinhas de chuva ... ainda o escutam gritar

_ Meu bem !!! Meu anjo !!! Também te amo.

Poeminha de butiquim


Queijo derretido com orégano
vai bem com cervejinha gelada

Uns abraços de “Como vai”
uns beijos de “Quanto tempo”

_ “Mais uma chefia”
sempre combina com causos das antigas

Ver dia escurecer no fim da tarde
dá sempre vontade de fechar o bar mais tarde

Amigo que, pelo imprevisto, passa pela rua e se senta
_ "Pô bicho quanto tempo né. "

Mesa do lado com papo mais animado
dois casais e um amigo

Cada dia tem seu bar e vice-versa
tardes quentes sugerem bares com varandinhas e cadeiras de madeira,
que suam menos a bunda

Os dias de lindo pôr do sol requerem vista do horizonte
que sejam prédios ao redor, mas que o sol
adiante se ponha no nosso queixo

[com orégano

foto de Julio Magalhães
http://www.flickr.com/photos/juliomagalhaes/1460669716/


Carnaval


Ontem abri caminho na calçada do Bairro Santa Mônica pra uma menina negra, seu pai, mãe e irmãozinho
Calçada estreita, eu com as mãos nos bolsos e bolhas nos pés, simplesmente cambaleei pra rua, pro asfalto

Tempos atrás isso não aconteceria ...
Não dariam licença à família negra

Carnaval é alforria
Sobretudo, modo negro de pensar e existir.
Apropriação.

Na antiguidade era e foi, a festa dos excessos.
Trabalhe todo o ano e abuse nos dias de Carnaval.

Coma beba transe.
Agradeça a colheita.
Depois volte ao trabalho.

O cristianismo ainda por cima institui a quarentena, 40 dias sem carne, viva ou morta.

No fim do século 19 início do 20, o Brasil pôs na roda seu Carnaval, criou seus signos e símbolos.
Como o Carnaval é festa, necessita de euforia e ritmo,
então lá veio o samba na esteira.

Tá lá o negro pondo cabelo na frigideira e roubando os ovos do galinheiro da Sinhá.

Notícias Populares


Em tempos de reality show, foram esmiuçar a vida do poeta, e colheram os seguintes depoimentos.

seu melhor amigo: “um depravado, não o deixo chegar perto da minha família nos almoços de domingo.”

ex-namorada: “transa mal.”

colega de trabalho: “fala demais e faz pouco.”

transeunte na Praça Tubal Vilela: ”nunca ouvi falar.”

pelos cocos

Numa roda de cerveja num bar em algum lugar do país, o pai diz aos amigos apontando o filho;

_ Esse menino ô ... fiz pelos cocos.

segunda-feira, 23 de março de 2009

dEUs




meu

dEUs

existe dentro de mim

[& à minha volta & à minha volta & à minha volta &]

vice-versa


existo

EU
pequenino

dentro de

meu

DeuS



sexta-feira, 20 de março de 2009

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"todo poeta
é um traficante de armas"


chacal



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