sábado, 27 de novembro de 2010

Sobre escrever ...


Escrever sobre guerras e velas derretendo
Sobre jogos de hóquei e corridas de carro
Escrever sobre os padres e as putas
Escrever sobre a ciência e a religião
Sobre cursos de cinema ou origami
Escrever sobre remédios e insônia
Escrever sobre livros e burocracia
Escrever sobre noitadas extremas
Sobre jogos lotéricos e tele-senas
Escrever sobre amizade e desejo
Escrever sobre sorrisos e missas
Sobre desvios de personalidade
Escrever sobre música e poesia
Sobre acordar no meio da noite
Sobre a seda e seus toques sutis
Sobre mulheres e seus homens
Escrever sobre infernos astrais
Sobre sexo, drogas e rocknroll
Sobre dilúvios e rituais pagãos
Sobre pôr do sóis e pescarias
Escrever sobre tempestades
Escrever sobre nascimentos
Sobre a primavera de Praga
Sobre botulismo e infecções
Sobre tragédias e acidentes
Sobre banheiros e navalhas
Sobre os amores perdidos
Sobre colchas de retalhos
Escrever sobre os mortos
Escrever sobre multidões
Sobre os conflitos do Rio
Escrever sobre mentiras
Escrever sobre musicais
Escrever sobre o samba
Sobre a verdade velada
Escrever sobre as sinas
Escrever sobre bebidas
Sobre preces e orações
Escrever sobre o ódio
Escrever sobre o caos
Escrever sobre o ócio
Escrever sobre beijos
Escrever sobre o jazz
Escrever sobre o mar
Escrever sobre a fala
Escrever sobre filhos
Escrever sobre a luz
Escrever sobre o pó
Sobre os sonhos
Sobre os deuses
Sobre solidão
Sobre o amor
Sobre o fogo
Sobre o falo
Sobre você
Sobre nós
Sobre fé

sobre
#tudo
sobre
todos
nós

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sol de gravata, e estrelas na ponta dos pés



#
Sonhei conosco esses dias

Você com uma camiseta de banda
eu de jaqueta e calça jeans

Sentados, cercados de amigos, numa mesa de bar
falávamos sobre política e sobre o Obama
e bebíamos cerveja
Não nos beijávamos
no sonho apenas nos olhávamos como se algo ainda fosse vir a acontecer
e te convidei pra se levantar e vir comigo

Subimos as escadas pra ver a noite
toda sua profundeza negra
e a vastidão das estrelas
já mortas
que piscavam pra nós seus olhos de meretriz

Enciumadas por você estar ali tão perto delas tão alta a ofuscá-las
em protesto pela injusta competição, pararam de brilhar
e fizeram tolas, da noite seu rápido fim
Recolheram-se as estrelas, ao mirar em você
com tremendo assombro
mais luz que em bilhões delas

Foi-se a noite e veio assustado e surpreso o Sol emanar seu dia

Descemos então pra rua a caminhar e só então nos demos as mãos
E entre os carros e os passantes fiz questão de lhe dizer
num beijo
meu desejo de você

O comércio parou pra ver
pessoas aplaudiram
e os jornais do dia seguinte noticiaram nosso beijo na TV.

“Que bonito!
No Fantástico os amantes se beijando.
Desse crime podemos morrer!”

E o Sol invejoso de mim, ao me ver ao lado seu
esquentou suas veias e fez da manhã um fim de tarde ardente
e foi preciso fugir e nos esconder por um tempo
pra que o Sol acalmasse sua ira e flanasse vagaroso
seu costumeiro hálito de mormaço
e seu silencioso rugido quente

Te dei uns óculos escuros
pra te proteger
do olhar fumegante do meu rival enciumado

Dizia ele em delírio e febre
que desde tempos remotos brilhava sobre esta
Terra
fazendo árvores, plantas, florestas densas
animais e seres humanos
respirarem
só pra fazer você existir

Que relação perigosa, essa nossa
O Sol, possessivo de você, ameaça varrer o mundo em labaredas
As estrelas despeitadas do seu brilho
morrem fugazes e se apagam a milhões de km de distância
ao te verem ao meu lado
Sinto que o mundo corre perigo fatal de se extinguir devido simplesmente aos nossos beijos

Já eu
o único perigo que lhe ofereço
é que você fique no bar e queira beber mais um pouco
quando me ver chegar

Mas que o Sol saiba desde já
que de agora em diante
brilhe sua flama por outras saias
ou que ilumine a nós dois
descontente ou desesperado.

E que as estrelas que se contentem
frente à sua luz
com seu brilho extinto e mirrado
pois se eu não puder mais te beijar
que se foda o Sol
as estrelas
e que o mundo inteiro
então
suma apagado ...

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terça-feira, 23 de novembro de 2010

São Jorge terça-feira 23 - parte IV



Recebi um cartão postal hoje com uma foto do Corcovado, dizia assim...

“Caro Robisson
Não poderemos nos encontrar hoje. Estou no Rio de Janeiro. O bicho ta pegando aqui. Nos vemos em breve. O escapulário da sua amiga chega logo, pelo correio.
Se cuida meu brodi.

Grande abraço
São Jorge”


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domingo, 7 de novembro de 2010

um postal do fim do mundo




Um dia
quando sobrar nesse mundo só o som das coisas que não existem mais
e as nossas pegadas rasas na areia
e o som das nossas vozes afligindo os últimos répteis resistentes
sob o sol de 50 graus
e
meus ossos esturricando no chão árido d'onde antes foi cerrado ou inverno
me lembrarei de você
e de mim
tomando banho de mangueira no meu quintal