terça-feira, 17 de setembro de 2013

O cego e a biblioteca


hoje à tarde, no momento em que a ventania castigava com sua força os transeuntes no centro da cidade, anunciando a presença de sua irmã mais trágica; a chuva, que aplacaria momentaneamente o calor de setembro, um cego desceu de um ônibus nos fundos da biblioteca municipal. 

o vento forte o atordoou e ele tentou segurar o boné com as mãos. não achava o caminho e se dirigiu pra cima de um canteiro. então voltei e o ajudei a chegar na biblioteca.
depois pensei, "eu meio que supus que ele ia pra biblioteca. mas ele poderia ter ido pra qualquer direção".

tinha uma mochila de uma alça só, transpassada nos ombros. seus óculos escuros eram legais.

quer ajuda? 
sim. vou pra biblioteca.
sim, ponha a mão no meu ombro. _ e me coloquei ao seu lado.

caminhamos.
ele se chamava bruno e estava indo ter aulas de braile com dona noêmia, que me pareceu ser uma boa pessoa no conceito de bruno.

me perguntou se eu era daqui como se soubesse que não sou.

não. não sou mas moro tem um tempo.

nos despedimos; "fique com Deus!", "um abraço".

uma moça negra que passava sorria pra mim.
disse; "parabéns".
eu agradeci; "obrigado". 

olhei pro céu, muito escuro, de um azul profundo.
continuei a caminhar.

ventava muito.


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