quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Discos que fizeram minha cabeça


THE VELVET UNDERGROUND & NICO



Em certos momentos da história da música, fatos que passam desapercebidos aos olhos do público e mesmo da crítica, algum tempo depois vão mudar todo o panorama da industria cultural e guiar novos caminhos para as tendências musicais. Foi isso que aconteceu quando em 1967, em Nova York, foi lançado o disco The Velvet Underground & Nico, ou o disco da banana. O LP não alcançou na época grandes vendagens, nem despertou muito interesse, porém com o passar dos anos foi sendo catapultado como pedra fundamental por uma série de bandas importantes, e hoje consta em qualquer lista de melhores discos de rock de todos os tempos. Capitaneado pelo junky Lou Reed, o Velvet tinha uma sonoridade que hoje alguns chamam de low fi, ou baixa fidelidade, uma certa crueza na gravação das composições, alternando com momentos altamente líricos, sugestionados pelo uso de violinos e violões, com pura microfonia e guitarras distorcidas, às vezes propositadamente desafinadas.
Lou Reed era um estudante de arte com pretensões musicais, que trabalhava como balconista durante o dia, e ao conhecer o também estudante de arte Jonh Cale, que dominava com muita propriedade a viola e o violino, decidem formar um conjunto. A eles se juntam a andrógina baterista Moe Tucker, e o baixista Sterling Morrison.

Para diagnosticar um pouco do desinteresse do público da época sobre a música do Velvet Underground, devemos lembrar que em 67, os EUA viviam a pura utopia flower power dos hippies, dos ideais de mudança social e de coletividade. Queria-se um mundo mais livre, com mais respeito, igualdade e amor, e o centro nervoso do movimento era a Califórnia, mais especificamente, as cidades de San Francisco e Los Angeles, com suas praias, paisagens paradisíacas e muito sol. As músicas de grupos como The Doors, Jefferson Airplane, Greatfull Dead e Byrds, com suas temáticas viajantes e poesia subjetiva e metafórica dominavam as paradas musicais e atraiam os holofotes. Portanto quando surge na costa leste, uma banda soturna, que geralmente se apresentava vestida de couro preto, falando, literalmente, pois Lou Reed quase recita suas letras, sobre heroína, sadomasoquismo, relações amorosas com travestis e festas intermináveis dentro da noite pesada de Nova York, se contrapondo totalmente a estética bicho grilo da Califórnia, apenas uma parte pequena do público se interessa pela sua música ou está preparada para ela. O Velvet chuta toda a alegria postiça dos hippies pra debaixo do tapete, e mostra muito antes de Lennon dizer que o sonho acabou, as veias abertas da sociedade americana e sua degeneração. A estética do “Veludo Subterrâneo” envolvia doses pesadas de sexo, drogas e aludia à desesperança e a angústia de Nova York, a opressão da grande metrópole consumista, perguntando como diz uma letra, “como mudar o mundo vivendo nesta cidade”.

O disco foi bancado e produzido por Andy Warhol, o papa da pop art, que queria expandir suas realizações artísticas, que envolviam exposições, filmes, instalações e festas em sua boate Factory. Ao assistir um show do Velvet, propôs arcar com as despesas para a gravação do primeiro disco da banda. No entanto, Andy impôs algumas condições para isso, uma delas, para desagrado de Lou Reed, era que a cantora Nico participasse do disco. De uma beleza gélida e nórdica, loira de um timbre de voz grave, era conhecida no meio artístico como cantora, atriz e modelo e uma das protegidas de Andy na época. Alguns críticos afirmam que Andy Warhol propôs a entrada de Nico na banda apenas por um capricho, uma demonstração de seu poder de manipulação. Assim Nico ganha seus 15 minutos de fama, como dizia Warhol. A capa é outro detalhe fundamental ao se falar deste disco, concebida por Warhol, traz sua assinatura e uma banana sob um fundo branco, no encarte, o interior da banana é rosa, trazendo alusão a um pênis.

Lou Reed, grande mentor do Velvet, compunha canções muitas vezes pessoais, falando sobre o submundo de Nova York, seus personagens e histórias, como em I’m Waiting for the Man, que narra a espera impaciente de um viciado por seu traficante. Outra canção pesada é Heroin, que trata da experiência com a heroína. Vênus in furs tem um clima mântrico guiada pelo violino de John Cale, e disserta sobre o prazer do sexo sadomasoquista. Coube a Nico a interpretação de três canções, Femme Fatale, especialmente composta para ela, All Tomorrow’s Parties e I’ll Be Your Mirror, canções calmas que destacam sua bela voz. O disco abre com a sublime Sunday Morning na voz meio rouca meio fanha de Lou e fecha com dois petardos de microfonia e distorção, tanto de guitarra quanto de violino, The Black Angel’s Death Song e European Son, que nitidamente são influências para bandas como Sonic Youth e Pixies.
Depois de sua estréia o Velvet Underground desfez seus laços com Nico e Andy Warhol, e lançou vários outros discos muito bons, Lou Reed e John Cale, após o fim da banda fizeram carreiras promissoras individualmente, mas o disco da banana se estabeleceu como marco e continua sendo a obra mais “comestível” desses artistas.


Posto link para o vídeo de uma das melhores músicas deste disco, "Vênus in Furs"
http://morgaine.vodpod.com/video/148261-velvet-underground-venus-in-furs
abaixo a letra.

Vênus In Furs - Velvet Underground & Nico
Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girlchild in the dark
Comes in bells, your servant, don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart
Downy sins of streetlight fancies
Chase the costumes she shall wear
Ermine furs adorn the imperious
Severin, Severin awaits you there
I am tired, I am wearyI could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears
Kiss the boot of shiny, shiny leather
Shiny leather in the dark
Tongue of thongs, the belt that does await you
Strike, dear mistress, and cure his heart
Severin, Severin, speak so slightly
Severin, down on your bended knee
Taste the whip, in love not given lightly
Taste the whip, now plead for me
I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears
Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girlchild in the dark
Severin, your servant comes in bells, please don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart

Um comentário:

Caio disse...

ai ai essas bandinhas bunda moles alternativas são um saco, soh pra bancar o CU-lt, quem chutou os hippies (embora Grateful Dead seja muito superior a VU) foram Frank Zappa, King Crimson e Black Sabbath. Pois VU é apenas um pop estranho para gay depressivo.