Gravar um disco mais que escrever um livro, é único e fugaz
O livro tá na cuca, na imaginação
As palavras grafadas pra sempre no papel
E ninguém a não ser você as lê
interpreta
imagina
decifra e cria
tudo no silêncio, no livro o silêncio é a única coisa que existiu
sabe como é
Agora a música tá na fala, na boca, na voz
Tá viva do teu lado te roçando os calcanhares
Gravou uma vez, é aquilo
E aí já era
19 e 20 de julho de 2008
dias de
nossas vidas
daqui a eternidade
dos mais importantes
vou guardar a camiseta amarela toda furada que usei
como troféu
guardá-la como torcedor apaixonado que pega em meio à multidão, na derrota por goleada pro rival, a luva do goleiro peruzeiro
e que pensa caminhando para casa, fazendo figa e apertando o amuleto
_ Próxima rodada vamos ganhar !!!
No estúdio, umas horas a música sangrava um pouquinho
Ia lá e ...
água borricada mertiolate assoprava e continuava
apagava as luzes na cabeça e via toda a minha vida
o que fiz e o que quero fazer
madrugada, bar, cigarro, samba, cervejas, beijo, drogas, amigos, encontros despedidas, rodoviária, ônibus, táxi, prostitutas, hotel, estúdio, banho, cama, sono
sonho nº 1
o ar tocava um sax numa boite em Massachusetis (falado pelo Mussum, que por sinal também estava lá)
cheiro de conhaque no bar, muito
depois da última apreensão, bourboun e vinho eram difíceis de encontrar
nós éramos a banda do lugar
e tocávamos só pra ganhar uns goles no butiquim
éramos negrões fudidos e oprimidos do Sul dos Estados Unidos em 1920
zero estrelas do rocknroll
sabíamos que íamos e poderíamos morrer a qualquer momento, tanto nós quanto nossos velhos pais negros de cabelos brancos e nossas filhas e filhos negros, crianças ou adolescentes
e qualquer um de nossos amigos negros como nós
afinal, éramos negrões fudidos e oprimidos do Sul dos Estados Unidos em 1920
tocávamos e as almas escorriam pelo salão
pessoas sentiam tão fortemente aquela música que uns tinham muita vontade de se masturbar
eu tinha cicatrizes no rosto uma voz tonitruante e roufenha
tocava banjo
B. media dois metros, tinha costeletas e ainda se chamava B.
Leôncio era Jonhson e tocava baixolão com mãos enormes
Nossa banda era Susie & The Heart’s Mopho
Aline era Susie, uma crioula de bunda enorme, e nós a acompanhávamos ocasionalmente em seus delírios de soul
Amávamos o jazz e o blues, éramos todos filhos de lavradores e havíamos freqüentado as igrejas gospels em nossas cidades
Uma lenda dizia que Jerry Lee espancava seu piano sob influencia de nosso guitarrista e pianista Antonys
E ainda havia Kidopoulos nas vassourinhas, preto como o petróleo e amante das atrizes de vaudeville
Éramos um bando de desgraçados impetuosos
Depois de dois intervalos e várias improvisações, em meio a um gole de Vermouth, ouvi meu verdadeiro nome sendo dito e acordei
Susie já de banho tomado me despertava
Era hora de levantar pegar um táxi e ir pro estúdio no Setor Leste da capital do Estado de Goiás
----------------------------
29 de julho de 2008
2 comentários:
- Cheguei até a imaginar o bar, o som os cigarros...E vi a moça, e os negrões com sua belas vozes, e o Jazz suavizando uma noite desvairada...Parecia até que estava lá, olhando tudo num canto de alguma parede.
deu pra imaginar,
quase ouvir o mesmo
blues, o mesmo jazz
deles
um bj!
Postar um comentário