sábado, 4 de setembro de 2010

Três anos de Hotel Sete ...




Sábado, 21 de Agosto



Acordei
Lavei o rosto
Passei no espelho o resto da noite que existia sob os olhos e minhas olheiras ...

Do bolso da calça tirei a chave do meu quarto
antes eram ácidos ou outros
Me dei conta que hoje já sei onde durmo
e que quando cheguei aqui me perdia nos andares

Hoje abro as portas e indico os quartos pros novos inquilinos e novatos

Percorri o corredor e desci as escadas
Passei a mão no jornal do dia

Na rua o mesmo trânsito iniciando sua transa, seu vai e vem
E eu, complexo transeunte, relembro minha primeira noite aqui dentro


http://hotelsete.blogspot.com/2007/08/nusea.html


A cabeça dói
Tudo a sua volta gira, se movimenta
Seu próprio estômago soca sua garganta
Golfadas de vômito
Engulho e dormência nas pontas dos dedos dos pés
E esse sol intenso desequilibrando as paredes e o teto

São apenas 7:47


Depois disso foram muitas festas, encontros, brigas, amores e noites bem vividas e mal dormidas

Certas madrugadas, às vezes pra incomodar a justa serenidade do sossego do quarto, caminhava pelos becos e circunvizinhanças as duas, três horas pra alegrar os notívagos e arriscar minha vida, sempre obviamente com a carteira vazia...

Do meu quarto compus meu livro de poemas, escrito hora em caneta tinteiro envenenada, hora em máquina Remington enferrujada, relíquia do meu avô e destruída por amigos eufóricos

Adoro presenteá-lo a desconhecidos e freqüentemente avisto, na esquina, dois mendigos folheando as páginas dos Poemas Ácidos e eles me acenam fervorosamente quando passo e balançam o livro nas mãos dizendo algo sobre algum poema que vêm lendo.
Eles se levantam e rumamos ao bar para tomar um café
Sempre pago... lógico

Ocasionalmente, aconteciam fantásticas jam’s musicais, onde compúnhamos canções e rocks, fumando cigarros e olhando o som da cidade pelas janelas abertas, surgindo assim uma banda que veio a gravar um disco empoeirado que é tocado no saguão central do Hotel numa velha vitrola de 1958, nas noites de sexta pra alegrar os inquilinos mais idosos, que reclusos preferem o conforto das poltronas, seus chás, dominó e gamão

Nesse interím fui conhecendo outros escritores, que sem lar vieram alugar quartos no Hotel e mesmo outros artistas que sublocaram todo o Subsolo do prédio

Com esses fiz mais amizade e por muito tempo morei junto a eles nos porões, confabulando e perpetrando nossa nova confraria, mas pelo que sei se mudaram para apartamentos na Rua Augusta, em São Paulo.

Nossas intenções não eram de forma alguma muito nobres, sobretudo, porque ademais queríamos ser lidos, fato que em si só, contrariava uma premissa do status quo, que é evitar o conflito
Começamos motivados a realizar leituras e festas, organizar encontros, zines e ...

Mas esperem aí, já estou me estendendo e estou atrasado, deixe eu ir trabalhar para descolar uma grana porque hoje é dia 21 ...
e tenho que pagar o aluguel
...

Um comentário:

Andrea disse...

Eu gosto do jeito q escreve!