Quando eu morri
não me levaram pro céu.
Me jogaram numa kitnete no centro de São Paulo.
Disseram _ “Fica aqui, não abra as correspondencias e não faça barulho depois das 10.”
Inexplicavelmente não havia luz na kitnete e mesmo assim eu enxergava às mil maravilhas em plena negra madrugada.
Não me constrangi e pensei _ “Deve ser assim quando se está morto.”
Nos primeiros dias, assisti muita TV, mas logo me chateei. Era a mesma programação dos vivos. Virei a tela para a parede e tirei o plug da tomada.
No Céu seria, sempre no horário nobre, a reprise do calvário do filho de Deus.
No Inferno, a Noite dos Mortos Vivos.
Não sentia muita fome, na verdade nenhuma fome, mas como havia comida no freezer, comia.
Coloquei as leituras em dia. Maiakowski, Foucalt, Guimarães Rosa, Kerouac.
Era pensar no livro que queria, e pega-lo dentro do armário. Isso não funcionava pra outras coisas, como cigarros e uisque. Mas havia na geladeira, cerveja e duas garrafas de vinho vagabundo, que iam quebrando um galho.
Comecei a escrever um diário.
O primeiro capítulo foi sobre as férias que passei na fazenda aos 12 anos, o seguinte sobre quando roubei um carro em Porto Belo, pra atravessar a fronteira com o Paraguay. O terceiro decidi que seria sobre aquela fantástica partida de futebol em 99, quando fiz três gols e abri o supercílio do goleiro com uma cotovelada. Segundo os amigos, involuntária.
Os dias foram passando.
Eu ali de chinelo de dedo e bermuda. Pela janela via o movimento da rua. Os pedestres, os carros, as pessoas, toda agitação da cidade. Estava no terceiro andar e havia muitos outros acima desse.
Escutava barulho de gente, famílias, casais, crianças. Acima e dos lados. Comecei a sentir falta, desses demônios, as pessoas. De repente me vi falando sozinho, pra não perder o costume de dizer, ouvir minha voz. Criava diálogos e cenas, personagens e situações.
Uma briga, um encontro, uma transa... Hum...
Numa noite qualquer, lá pelas três, vieram me buscar, vesti minha calça e sapatos e pus a camiseta.
_ “Já não era sem tempo hein?” _ mas naõ se deram ao trabalho de responder. E lá da porta, sem nem mesmo entrar, já virando de costa, como é de costume a quem tem muita coisa ainda a fazer, disseram. _ “Apague a luz quando sair.”
E eu sem entender nada, ouvi minha voz dizer.
_ “Luz ? Mas que luz?”
não me levaram pro céu.
Me jogaram numa kitnete no centro de São Paulo.
Disseram _ “Fica aqui, não abra as correspondencias e não faça barulho depois das 10.”
Inexplicavelmente não havia luz na kitnete e mesmo assim eu enxergava às mil maravilhas em plena negra madrugada.
Não me constrangi e pensei _ “Deve ser assim quando se está morto.”
Nos primeiros dias, assisti muita TV, mas logo me chateei. Era a mesma programação dos vivos. Virei a tela para a parede e tirei o plug da tomada.
No Céu seria, sempre no horário nobre, a reprise do calvário do filho de Deus.
No Inferno, a Noite dos Mortos Vivos.
Não sentia muita fome, na verdade nenhuma fome, mas como havia comida no freezer, comia.
Coloquei as leituras em dia. Maiakowski, Foucalt, Guimarães Rosa, Kerouac.
Era pensar no livro que queria, e pega-lo dentro do armário. Isso não funcionava pra outras coisas, como cigarros e uisque. Mas havia na geladeira, cerveja e duas garrafas de vinho vagabundo, que iam quebrando um galho.
Comecei a escrever um diário.
O primeiro capítulo foi sobre as férias que passei na fazenda aos 12 anos, o seguinte sobre quando roubei um carro em Porto Belo, pra atravessar a fronteira com o Paraguay. O terceiro decidi que seria sobre aquela fantástica partida de futebol em 99, quando fiz três gols e abri o supercílio do goleiro com uma cotovelada. Segundo os amigos, involuntária.
Os dias foram passando.
Eu ali de chinelo de dedo e bermuda. Pela janela via o movimento da rua. Os pedestres, os carros, as pessoas, toda agitação da cidade. Estava no terceiro andar e havia muitos outros acima desse.
Escutava barulho de gente, famílias, casais, crianças. Acima e dos lados. Comecei a sentir falta, desses demônios, as pessoas. De repente me vi falando sozinho, pra não perder o costume de dizer, ouvir minha voz. Criava diálogos e cenas, personagens e situações.
Uma briga, um encontro, uma transa... Hum...
Numa noite qualquer, lá pelas três, vieram me buscar, vesti minha calça e sapatos e pus a camiseta.
_ “Já não era sem tempo hein?” _ mas naõ se deram ao trabalho de responder. E lá da porta, sem nem mesmo entrar, já virando de costa, como é de costume a quem tem muita coisa ainda a fazer, disseram. _ “Apague a luz quando sair.”
E eu sem entender nada, ouvi minha voz dizer.
_ “Luz ? Mas que luz?”
Um comentário:
Sem mais, eloqüentíssimo Morus,estimo que estejas são e tomes animosamente a parte de tua loucura
Postar um comentário